Não
é preciso adivinhação para prever a possibilidade de sofrer uma fratura
em uma década e até mesmo de ter osteoporose. O segredo do futuro está
na aliança entre a medicina e a matemática, combinados em um programa decomputador que
indica como anda a saúde do esqueleto, recomenda a realização de outros
testes e até mesmo a necessidade de tratamentos com remédios. São
softwares simples e disponíveis na internet gratuitamente. Um deles é o
Frax - ferramenta para avaliação de risco de fratura, em português.
Com
dados como idade, peso, altura, histórico de fraturas na família, uso
de cortisona, hábitos como fumar e beber, doenças secundárias e o
resultado do exame dedensitometria óssea -
que avalia a qualidade do osso -, os médicos podem calcular a
probabilidade de quebra-quebras em um decênio. Quanto mais frágil o
quadro do indivíduo se configurar, maior será o risco daquele som de um
osso se espatifar.
Nesses casos, os médicos podem
optar pela prescrição de medicamentos como medida preventiva. Criado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Frax chega ao Brasil no ano
que vem. O reumatologista Cristiano Zerbini, da diretoria da
International Osteoporosis Foundation (IOF), conta que um dos fatores
levados em conta na versão brasileira é a miscigenação. "Somos
descendentes dos negros, que têm melhor estrutura óssea. Isso nos
favorece", afirma.
A
outra novidade tecnológica vem da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). O Sapori, ou Índice de Risco de Osteoporose em São Paulo, usa
quase os mesmos dados que o Frax, exceto a densitometria - sua função é
justamente recomendar o exame para mulheres. "O Sapori ajuda a definir o
diagnóstico de osteopenia e osteoporose, enquanto o Frax sugere os
rumos do tratamento", compara o reumatologista Marcelo Pinheiro,
presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e
Osteometabolismo (entenda a diferença entre os dois problemas abaixo).
Apesar
de a osteoporose ser conhecida pela população, a falta de entendimento
do que causa a doença é alarmante. Uma pesquisa do Ibope revela que mais
de 60% das mulheres acima de 45 anos - principais vítimas do mal -
nunca fizeram uma densitometria. O exame é bem simples: trata-se de
raios X mais sofisticados que medem a quantidade de cálcio do tecido
ósseo. Outro fator preocupante é que 96% acreditam que a osteoporose
provoca dores e esperam sintomas para procurar ajuda, sendo que não há
sensação dolorosa - só depois da fratura, que poderia ser evitada com o
acompanhamento.
A
maior parte do público feminino também sabe que o consumo de cálcio é o
caminho para prevenir a deterioração do esqueleto. Mesmo assim, seis em
cada dez mulheres abaixo dos 45 acreditam no mito de que um copo de
leite por dia é suficiente. Na verdade, essa quantidade é apenas um
terço do recomendado. O ideal é 1 200 miligramas por dia - o equivalente
a quatro porções lácteas -, e o brasileiro ingere apenas 400
miligramas.
A
vitamina D é importante nessa equação, já que níveis baixos prejudicam a
absorção do cálcio. Médicos sugerem o consumo entre 400 e 600
miligramas diários, mas ingerimos 100 miligramas. Como poucos alimentos
são ricos no nutriente, o banho de sol é a solução - bastam 15 minutos.
Existe ainda aquela história do faça o que digo, mas não faça o que
faço. As mulheres com mais de 45 anos reconhecem a importância da
atividade física regular para prevenção, só que menos de um terço delas
segue a orientação à risca. O reumatologista Diogo Domiciano, do
Hospital das Clínicas de São Paulo, alerta que o sedentarismo pode ser
mais perigoso que a falta de leite: "É essencial praticar exercícios de
impacto - como as caminhadas -, de equilíbrio e principalmente aqueles
para ganho de massa e força muscular".
Poucas
reconhecem que a prevenção deve ser feita desde a infância, e não
apenas na fase adulta. Mais grave: 89% delas não relacionam a
osteoporose com a menopausa (entenda esse elo abaixo).
Por essas e outras, os programas de computador podem ajudar os médicos a
enfrentar o problema. "A chave para o sucesso é fazer as perguntas
certas e investigar os fatores básicos", lembra Cristiano Zerbini.
As
previsões são um tanto sombrias. A IOF estima que uma em cada três
mulheres esteja perdendo massa óssea no mundo. Aqui, são mais de 20
milhões de brasileiras, a maioria sem diagnóstico. Nos casos de fraturas
mais graves, como a de quadril, pelo menos 20% das vítimas morrem após
12 meses. Outros 40% ficam com dificuldade para caminhar sozinhas.
Em
alguns episódios, a dieta balanceada não dá conta do recado e os
medicamentos entram na jogada. São drogas que melhoram a resistência do
osso ao impedir a degeneração e incentivar a reconstrução. O problema é
que provocam efeitos adversos, principalmente gastrointestinais. Podem
ser tomadas diariamente, a cada semana, uma vez por mês ou ao ano - tudo
depende do componente químico e da fragilidade do esqueleto.
Um
levantamento da consultoria de saúde Orizon comprova que prevenção e os
medicamentos não são só mais vantajosos ao evitar a quebradeira mas
também valem a pena financeiramente. O tratamento de uma fratura pode
ser 111 vezes mais caro que os remédios. Cada paciente gastaria com
fármacos entre 900 e 1,7 mil reais por ano, enquanto a quebra do fêmur,
por exemplo, pode dar um prejuízo de mais de 60 mil reais com exames,
remédios, despesas médicas, cirúrgicas e internação hospitalar - isso
sem falar no afastamento do trabalho, na dor e nas dificuldades de
mobilidade. Assim, prever o risco de osteoporose e até flagrá-la cedo
nos dá a chance de exercer o livre-arbítrio. Nunca é tarde para
caprichar no consumo de cálcio, expor-se ao sol nos horários certos,
malhar e deixar de lado aqueles hábitos ruins, como o cigarro. O futuro
pode ser mudado para que o processo de envelhecimento não reserve más
surpresas para os ossos.
Doença silenciosa
A perda de tecido ósseo pode passar despercebida
Osso saudável Ganhamos
massa óssea até os 20 anos e perdemos com maior velocidade depois dos
40. Dois tipos de células - de reconstrução, os osteoclastos, e de
reabsorção, os osteoblastos - garantem o equilíbrio do ciclo de
renovação dos ossos.
Osteoporose Se
não for descoberto a tempo, o excesso de absorção vai esburacar cada
vez mais o osso, deixando-o poroso e frágil. Aí, qualquer tombo ou
topada oferece enorme risco.
Fonte: saude.abril.com.br
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