Na mesa do homem mais veloz do mundo não falta... mandioca. Ela é a principal fonte de energia do jamaicano Usain Bolt, segundo revelou
seu pai durante as Olimpíadas de Pequim em 2008, após o filho bater o
recorde mundial dos 100 metros rasos. E faz sentido: essa raiz tem dois
tipos de carboidrato, a amilopectina e a amilose, que, juntos, liberam a
glicose mais lentamente para o corpo. Isso facilita a digestão, evita
picos de açúcar no sangue e dá gás de sobra para o dia a dia.
Mas
não é preciso ser medalhista para tirar proveito do alimento que já foi
batizado de a "rainha do Brasil". Tanto é que a Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) vem endossando sua produção e
seu consumo mundo afora. A entidade quer acabar com o status de "comida
de pobre" e utilizá-lainclusive para
combater a fome. "Infelizmente, a mandioca tem uma riqueza pouco
conhecida", diz o engenheiro agrônomo Joselito Motta, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa.
Fonte de fibras e isenta de glúten — qualidade que a faz não pesar tanto na digestão
—, a raiz carrega versatilidade no nome, nas condições de plantio e nas
formas de preparo. Dependendo da região, é chamada de aipim, macaxeira,
maniva, uaipi ou xagala. Não há tempo ou terra ruim pra ela. "A
mandioca é um camelo vegetal", brinca Motta, fazendo referência ao fato
de que a planta cresce em solos pobres e resiste a períodos de seca. À
mesa, ela pode ser degustada cozida, frita, em purê e dá origem a
tapioca, polvilho e farinha. Ah, a brasileirinha ainda é barata: custa
em média 2 reais o quilo, 30% a menos que a batata.
Por
falar na sua rival, a mandioca leva certas vantagens. "Ela possui maior
quantidade de vitaminas A, B1, B2 e C", diz a nutricionista Maria
Carolina von Atzingen, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo. Fazendo justiça, porém, precisamos avisar que a abundância em
energia traz um efeito colateral: 100 gramas de mandioca têm quase três
vezes mais calorias que a mesma porção de batata — são 160 calorias
contra 58.
Só
que isso não deve assustar quem se preocupa com o peso. "A composição
de carboidratos da raiz faz com que ela prolongue a saciedade", conta
Rafaella Allevato, coordenadora do Serviço de Nutrição do Hospital San
Paolo, na capital paulista. Não por menos, a mandioca costuma ter passe
livre em dietas e
é indicada a diabéticos. "Ao contrário de outras fontes de carboidrato,
ela não gera picos de glicemia", diz Rafaella. Agora, note bem:
justamente por ser um reduto desse nutriente, é prudente que ela não
seja misturada nas refeições com outros depósitos de carboidrato, como
arroz, macarrão...
Por
ser livre de glúten, a mandioca é queridinha de outra parcela da
população, os portadores de doença celíaca — estima-se que sejam 2
milhões só no Brasil. Graças a seus derivados como a farinha e o
polvilho, os celíacos conseguem ampliar o limitado cardápio de quem não
pode ingerir a proteína que dá as caras no trigo, por exemplo. Segundo
Ana Vládia Bandeira Moreira, professora de nutrição da Universidade
Federal de Viçosa, em Minas Gerais, o tubérculo ainda ajudaria a conter
episódios de diarreia nessa turma. Aliás, a raiz é uma boa pedida diante
de diversos problemas que atrapalham o ganho de nutrientes. Tudo por
causa daquele lento processo de absorção dos carboidratos, que dá ao
organismo mais tempo para assimilar outros compostos. Na hora de
cozinhar a mandioca, uma dica: adicione um fio de óleo na água. "Isso
auxilia na retenção das vitaminas", garante Ana Vládia.
Apesar
de estar presente há cerca de 7 mil anos na Amazônia, a mandioca só
ficou mais nutritiva nas últimas décadas. A variedade que hoje está
presente na mesa do brasileiro, branca na feira e amarelada após o
cozimento, tem dez vezes mais vitamina A que a cultivada no tempo do
descobrimento. Ela é resultado de um processo gradual de melhoramento
genético, realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e pela
Embrapa, que cruzaram diferentes espécies até chegar a um tipo saudável e
resistente a pragas. Agora, o IAC vai lançar uma nova variedade ainda
mais vitaminada e rica em antioxidantes, substâncias que combatem o
envelhecimento celular e reduzem o risco de doenças ligadas à idade,
como o câncer. Segundo a pesquisadora do IAC Teresa Valle, a nova
espécie terá 900 unidades internacionais (UI) de vitamina A, contra 220
UI da consumida atualmente, e deve chegar ao mercado em 2014. Pelo
visto, se depender da mandioca, Usain Bolt vai quebrar recordes até
ficar com os cabelos bem brancos.
Raiz histórica
O
Brasil é a terra natal da mandioca. Do centro do país, o tubérculo se
espalhou por mais de 100 nações desde a chegada dos portugueses. Sua
importância era tanta nos tempos de colônia que o padre José de Anchieta
a batizou como o "pão da terra". Citada na carta de Pero Vaz de
Caminha, ela acabou adotada pelos lusitanos. "Não fosse sua presença, a
ocupação das terras brasileiras teria sido mais difícil", diz Joselito
Motta. Não à toa, o historiador Luís da Câmara Cascudo chamou a planta
de a "rainha do Brasil."
Tesouro de nutrientes - o que há em 100 g de mandioca
Calorias (Kcal)...................... 160
Proteínas (g) ........................ 1,36
Lipídeos (g) .........................0,28
Carboidratos (g) ..............38,06
Fibras (g) .............................. .. 1,8
Cálcio (mg) ............................. 16
Vitamina C (mg) .................20,6
Fonte saude.abril.com.br
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