A
força dos cabelos tem dimensão bíblica, datada de mil anos antes do
nascimento de Cristo. No Antigo Testamento, é representada por Sansão,
corajoso guerreiro cujas madeixas concentravam seu vigor físico. Traído
pela amada Dalila, foi à derrocada depois que ela cortou a fonte de seu
poder, entregando seus cachos aos inimigos. A humanidade sempre deu
importância aos cabelos, como símbolo de autoestima e vitalidade. Há, é
claro, exceções em que a careca — nos homens, bem entendido — tem seu
charme, mas aí estamos falando daqueles casos em que a característica é
uma herança de pai para filho. O problema sério é quando os fios começam
a despencar, sem mais nem menos, deixando a cabeça com aquelas falhas
irregulares que são motivo de constrangimento e insegurança. Sem falar
que muitas vezes sinalizam doenças.
Os
cabelos não têm uma função vital para o organismo — cá para nós, eles
só servem para proteger o couro cabeludo de intempéries. "Daí que,
diante de uma situação em que o corpo precisa economizar nutrientes e
energia para se defender de uma infecção ou de uma carência nutricional,
por exemplo, os fios são relegados a segundo plano", explica o
tricologista, isto é, dermatologista especializado em cabelos, Valcinir
Bedin, do Instituto de Pesquisa e Tratamento do Cabelo e da Pele, em São Paulo. Ou seja, o organismo abre mão das madeixas, que acabam no chão.
A
má notícia é que esse alarme de encrenca tem disparado com cada vez
mais frequência, especialmente na ala feminina. "Há dez anos, uma mulher
a cada 10 homens procurava meu consultório. Hoje, elas representam 40%
dos meus pacientes", estima o médico Luciano Barsanti, presidente da Associação Brasileira de Tricologia.
Motivos não faltam. O time da Luluzinha está fumando mais, trabalha
numa tripla jornada, apela para dietas radicais e até cirurgias para
recuperar a silhueta. Aí, a avalanche dos fios é quase certa. Ela atende
pelo nome de alopecia se mais de 100 fios despencam do couro todo santo
dia.
"Os
distúrbios nos hormônios da tireoide e dos ovários são os principais
vilões entre as mulheres", aponta o tricologista Ademir Junior, de São
Paulo. "No sexo masculino, a predisposição genética continua com papel
preponderante. Mas a ela basta associar fatores como estresse e os tufos
caem depressa", conclui. Digase: a lista de algozes da cabeleira é mais
extensa do que os problemas citados até esta linha. Dela fazem parte
infecções, seborreia (sinônimo de oleosidade nas alturas), doenças
autoimunes, depressão e até mesmo o uso de remédios, caso de alguns
antidepressivos, anti-hipertensivos, anabolizantes e antibióticos.
Novos
métodos têm facilitado o diagnóstico precoce de problemas capilares.
"Um exame chamado scanner do couro cabeludo fornece uma imagem aumentada
em 8 mil vezes, o que permite flagrar inflamações, seborreia e
alterações na circulação sanguínea local", revela Luciano Barsanti. "A
microscopia eletrônica, por sua vez, possibilita a avaliação da matriz
celular do fio", continua.
Os
testes laboratoriais são igualmente indispensáveis. "Solicitamos exames
de sangue para verificar a presença de infecções e distúrbios
hormonais", diz o dermatologista Arthur Tykocinski, de São Paulo. Às
vezes, o simples tratamento dessas disfunções é suficiente.
Fonte: Saude.Abril.com.br
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