Há
23 anos, uma doença altamente perigosa dava os seus suspiros
derradeiros no Brasil. Detectada por aqui pela última vez em 1989, a
poliomielite, também chamada de paralisia infantil, tornou-se um
problema controlado em todo o território verde e amarelo graças a um
extensivo programa de vacinação promovido pelo Ministério da Saúde. Mas
isso não significa que a pólio seja um perigo do passado no restante do
mundo.
A
meta da Organização Mundial da Saúde era erradicar a enfermidade em
todos os continentes até o ano 2000. Apesar dos esforços contínuos, o
objetivo não foi superado. Em locais como a Nigéria, o Paquistão e o
Afeganistão, ela ainda dá as caras — e volta a ser uma ameaça em outros
países, como o Chade, a Angola e a República Democrática do Congo. É
claro que os esforços não foram em vão: segundo dados da própria OMS,
quando o Programa Mundial de Combate à Poliomielite começou em 1988, o
planeta abrigava 350 mil infectados. Em 2005, esse número tinha caído
para 2 mil pessoas.
Apesar
de popularmente conhecida como paralisia infantil, a doença atinge
tanto crianças quanto adultos. Ela é mais frequente nos pequenos
justamente porque o contágio acontece por meio do contato direto com
fezes infectadas ou por secreções expelidas pela cavidade oral - e a
criançada vive com a mão na boca. "Depois de ingerido, o vírus se
multiplica no trato gastrointestinal e cai na corrente sanguínea. O
excesso é eliminado pelas fezes e vai contaminar outras pessoas", conta a
pediatra Lily Yin Weckx, coordenadora do Centro de Referência de
Imunobiológicos Especiais, da Universidade Federal de São Paulo. O que
fica no organismo viaja até o cérebro, mata alguns neurônios e destrói
diversas ligações do sistema nervoso.
"Em
quase 95% dos casos, não há sintomas quando esses estragos começam a
acontecer. Em 1% dos afetados, as manifestações são iguais a outras
infecções corriqueiras, como febre e dor de cabeça", explica a pediatra
Marion Burger, pesquisadora do Instituto Pelé Pequeno Príncipe, em
Curitiba, no Paraná. Outras pessoas - uma fração mínima entre os
contaminados - apresentam a paralisia logo de cara. Mas fique claro:
todas as vítimas, com ou sem sintomas, acabam com algum grau de
paralisia."Ela é muito mais frequente nos membros inferiores", completa
Marion. O ataque aos neurônios pode, inclusive, impedir os movimentos
dos músculos da respiração e, lógico, isso causa uma morte rápida e
extremamente cruel.
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