Quem não aprecia comparações que nos perdoe, mas o checkup nada mais é
do que a bola de cristal do médico. É por meio de exames que ele
vislumbra o provável futuro do paciente e, se preciso, intervém no
presente para lhe proporcionar um destino melhor. Tudo perfeito se não
houvesse uma tendência em abusar desse expediente, o que transforma a
bola de cristal em um caro truque de ilusionismo.
O alerta mais
recente vem de uma pesquisa do instituto Consumer Reports, nos Estados
Unidos, que avaliou cerca de 8 mil americanos acima dos 40 anos
submetidos a checkups cardíacos. A entidade concluiu que 44% dos
participantes passaram, em algum momento, por exames desnecessários.
Eles não portavam história ou condições que justificassem a realização
de uma ressonância cardíaca ou de um ultrassom de carótidas, por
exemplo.
No Brasil, a demanda por exames também parece se
intensificar, tanto da parte do clínico quanto do paciente. "As pessoas
acreditam que, quanto mais testes elas fazem, mais protegidas ficam",
observa a gastroenterologista Patrícia Oliveira, do serviço de checkup
do Laboratório Fleury, em São Paulo. Essa crença, além de ilusória, não
está isenta de perigos. Segundo Patrícia, quando um exame mal indicado
tem um resultado falso positivo, a investigação prossegue à toa com
métodos mais invasivos e dotados de riscos — basta pensar, insistindo na
área da cardiologia, no cateterismo ou na tomografia do coração, a qual
requer uma dose, ainda que mínima, de radiação.
"Há uma pressão
do paciente por exames. Se o médico não os prescreve, ele até procura
outro especialista pensando que foi mal atendido", lamenta o
endocrinologista Frederico Marchisotti, da rede Diagnósticos da América,
em São Paulo. Também temos o outro lado da história. "Existem
profissionais que não ganham muito por consulta, o que os obriga a
reduzir o tempo da avaliação clínica e a solicitar mais testes para
ganhar segurança", diz Marchisotti.
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