Aclamada
nos quatro cantos do planeta por prevenir problemas cardiovasculares, a
dieta do Mediterrâneo serviu de alicerce para a criação de um cardápio
igualmente amigo do peito, só que composto de alimentos e receitas
tipicamente tupiniquins. Elaborado pelo Hospital do Coração (HCor), na capital paulista,
em parceria com o Ministério da Saúde, o menu inclui, entre outros
itens, arroz, feijão, castanhas como a de caju e frutas nacionais, a
exemplo do açaí, do abacaxi e da goiaba.
"Temos muitas pesquisas em cardiologia no Brasil,
mas, até agora, nenhuma que tenha se debruçado sobre o efeito da nossa
alimentação na redução de eventos cardíacos", contextualiza a
nutricionista Camila Ragne Torreglosa, uma das integrantes da equipe que
desenhou a nova dieta. Esta, inclusive, já foi posta à prova em um
estudo piloto, do qual participaram 120 indivíduos com histórico de
piripaques no coração. Enquanto uma parte seguiu o cardápio verde e
amarelo do HCor, a outra recebeu as recomendações clássicas para evitar
outro susto — como o consumo de alimentos característicos de países
banhados pelo mar Mediterrâneo, caso do azeite de oliva e dos pescados.
Depois de 12 semanas, os pesquisadores notaram uma diminuição de peso mais
significativa na turma que investiu nos pratos cheios de brasilidades.
"Com isso, o perfil metabólico dos voluntários melhorou. Ou seja, os
triglicerídeos, a glicemia e a pressão arterial baixaram", conta Camila.
"São exatamente esses fatores que contribuem para a ocorrência de males
cardíacos", completa. Outro ponto positivo foi aqueda dos índices de
colesterol, mais um financiador de panes nas artérias. O resultado
empolgou os especialistas a iniciarem uma análise nacional, com 2 mil
pacientes de 40 centros de referência em cardiologia e acompanhamento de
um ano.
Nesse projeto, mais uma vez o objetivo é avaliar o efeito na prevenção secundária —
ou seja, em pessoas que já se assombraram com problemas
cardiovasculares. "Quem infartou ou teve derrame apresenta um risco 7,5
vezes maior de passar novamente pela situação em um período de quatro
anos", justifica o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Logo, esse pessoal precisa de atenção
redobrada para manter o peito ou o cérebro em ordem. E está mais do que
comprovado que a alimentação tem papel de destaque nesse cenário.
"Estudos mostram que mudanças de hábitos, que abrangem refeições mais
balanceadas e prática de exercícios, surtem efeitos incríveis na
prevenção de doenças cardíacas", ressalta Malachias.
A
sacada da dieta verde e amarela está justamente no fato de que não
exige reviravoltas bruscas à mesa. Pelo contrário. "Ela propõe um
resgate da alimentação tradicional brasileira, com valorização de
receitas como o arroz com feijão, preparados com quantidades mínimas de
sal e gordura", diz Patrícia Jaime, coordenadora geral de Alimentação e
Nutrição do Ministério da Saúde.
Além
de itens comuns a toda a nossa população, a nova dieta cardioprotetora
ainda privilegia pratos e ingredientes regionais. São bons exemplos o
açaí do Norte, a gabiroba do Centro-Oeste, a tapioca do Nordeste e o
chimarrão do Sul. "O Brasil é enorme e os costumes são diferentes em
cada região. Então, se a dieta contempla essa diversidade, fica muito
mais fácil garantira aceitação das pessoas", opina Elisabete Almeida,
diretora executiva do programa Meu Prato Saudável, vinculado ao Hospital
das Clínicas de São Paulo. Essa peculiaridade dá larga vantagem ao
cardápio do HCor em relação à dieta mediterrânea. Resta saber se trará
benefícios semelhantes ou mais surpreendentes. Até agora, sem puxara
sardinha, tudo conta a favor dele.
Fonte: saude.abril.com.br
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