Acabar com a clamídia é moleza. Difícil é que a bactéria Chlamydia trachomatis,
causadora desse mal, se adapta ao nosso organismo e se multiplica na
surdina, sem dar o menor sinal de vida — só para você ter uma ideia, 70%
das mulheres e 40% dos homens contaminados nem sonham que têm a doença.
Daí a dificuldade de rastreá-la.
Para
resolver o imbróglio e desmascarar de vez a danada — pelo menos na
parte que compete ao lado feminino —, pesquisadores do Laboratório de
Imunopatologia Keizo- Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
incluíram um recurso de ponta chamado primer em um dos exames
anteriormente disponíveis. Com isso, deram um salto de precisão no
resultado.
É
que o tal recurso tem o objetivo de apontar pedaços do DNA da bactéria
encontrada na secreção vaginal. E mais: esperto, ele deduz qual seria a
sequência de DNA completa da clamídia e indica qual parte deve ser
copiada e replicada — tudo a fim de produzir material genético em
quantidade e qualidade suficientes para ser analisado. O superavanço fez
da pesquisa uma das finalistas do 3o Prêmio SAÚDE!, realizado no final do ano passado.
Antes,
os pedaços de DNA deixavam dúvida se havia ou não uma infecção.
“Adicionamos o primer ao exame habitualmente usado para identificar a
clamídia, o PCR em tempo real, com o objetivo de aumentar a
sensibilidade e chegar a um acerto de aproximadamente 100% nos
diagnósticos”, conta o farmacêutico biotecnólogo Paulo Roberto Eleutério
de Souza, coordenador da pesquisa realizada pela farmacêutica
bioquímica Ana Catarina Simonetti.
Outra
vantagem é que o resultado sai entre duas e três horas, permitindo que o
tratamento seja iniciado o mais rápido possível. “Parece exagero, mas é
muito válido porque qualquer micro-organismo numa temperatura de 37 ºC,
como é a do corpo humano, se multiplica a cada 20 minutos”, lembra o
biomédico José Humberto de Lima Melo, também do Lika.
Existem três grupos ou variedades de Chlamydia trachomatis —
cada um deles acarreta um tipo de prejuízo ao organismo se o tratamento
não acontecer a tempo. As do grupo A, B, Ba e C são culpadas por uma
espécie de conjuntivite que pode levar à cegueira. Já a turma formada
pelas bactérias L1, L2, L2a, L2b e L3 levam a uma infecção chamada
linfogranuloma venéreo, que pode evoluir para úlcera e edema dos órgãos
genitais. “Por fim, as clamídias do tipo D a K provocam inflamações ou
infecções genitais”, completa o médico Jorge Luiz Mello Sampaio,
assessor em microbiologia do Fleury Medicina e Saúde, em São Paulo.
Esse
último grupo é justamente o mais agressivo. Entre as mulheres, por
exemplo, as inflamações provocadas pelas bactérias D ou K obstruem as
trompas, levando a casos de gravidez tubária ou à infertilidade —
irreversível, é bom deixar claro. Para que nada disso aconteça, vale
saber: “No grupo de risco estão homens e mulheres que têm muitos
parceiros e não usam camisinha, que é a única forma de prevenção”, diz a
ginecologista Emília Jalil, assessora técnica do Programa Nacional de DST e Aids, doMinistério da Saúde.
A ginecologista Micheline Oliveira, gerente do Laboratório da Mulher, do Laboratório Central de Pernambuco (Lacen),
escancara outra razão para pessoas com vida sexual ativa procurarem um
especialista e saírem da mira da clamídia. “Evidências apontam que ela
facilita a progressão do câncer de colo de útero devido aos danos
provocados nas células desse órgão”, afirma.
O
lado bom dessa checagem é que o tratamento é simples, feito apenas com
antibiótico oral. “Normalmente, são prescritos azitromicina ou
doxiciclina. O primeiro é indicado para infecção recente, que ocorreu há
menos de um ano. A pessoa engole uma dose única, que deve ser repetida
uma semana depois”, explica o ginecologista Márcio Coslovsky, diretor da
clínica Huntington Medicina Reprodutiva,
no Rio de Janeiro, e membro da Sociedade Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia. “Já o segundo remédio é utilizado por um período de dez a
14 dias para tratar a infecção crônica”, diz. Independentemente do caso,
é essencial que o parceiro também seja tratado pelo mesmo tempo e com o
mesmo remédio. Casal que cuida da saúde unido...
4
em cada 10 homens com a bactéria Chlamydia trachomatis nem desconfiam
que estão infectados por não apresentarem sintomas como ardor ao urinar,
secreção peniana ou dor na relação sexual
7 em cada 10 mulheres
com clamídia só descobrem que sofrem da doença quando se deparam com
infertilidade, aborto espontâneo, parto prematuro ou ao dar à luz um
bebê com conjuntivite
Fonte: saude.abril.com.br
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