Quando
se fala em unidade familiar, a imagem que logo vem à cabeça é aquela
propagada pela banda Titãs em um hit da década de 1980: "Família,
família/ Papai, mamãe, titia..." Mas, cá entre nós, essa composição
convencional — com um homem e uma mulher zelando pela prole — já não é a
única forma de juntar pessoas que se amam debaixo do mesmo teto. A
questão, no viés da revista SAÚDE, é a seguinte: será que as novas e
boas famílias, às vezes com uniões de homossexuais ou simplesmente
criação de crianças por pessoas solteiras, impactariam negativamente no
bem-estar dos filhos?
A
resposta é um sonoro não, segundo a Academia Americana de Pediatria
(AAP). Tanto que, em março deste ano, a instituição se posicionou a
favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Antes de emitir a
declaração, a entidade revisou estudos dos últimos 30 anos. Com os
achados, ficou evidente que a saúde emocional da criançada não está
ligada à orientação sexual dos pais, mas à qualidade da relação com
eles.
O
que vale, portanto, é o comprometimento de todos os familiares com o
seu desenvolvimento e educação. "A criança precisa de um suporte
psicológico. E isso pode ser provido por quaisquer pessoas, contanto que
estejam preparadas", afirma o pediatra Benjamin Siegel, presidente do
Comitê de Aspectos Psicossociais da Saúde da Criança e da Família da
AAP. Mas atenção: isso depende da presença constante de pais, avós e até
mesmo tios desde o início. "A família é o primeiro laço do bebê com o
mundo", reforça a psicóloga Pamela Magalhães, do Núcleo de Estudos e
Prática Sistêmica de Casais e Vínculos Familiares.
Até
por esse motivo, a troca de afeto, de valores e de conhecimento é
determinante ao desenvolvimento das funções emocionais e cognitivas.
"Crianças com carência afetiva podem se tornar apáticas, apresentar
dificuldades de aprendizado e ter diminuição de certas áreas cerebrais",
alerta o neurologista Mauro Muszkat, coordenador do Núcleo de
Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar da Universidade
Federal de São Paulo, a Unifesp.
Se
a massa cinzenta de adultos é abalada quando exposta a violência ou
discussões, imagine o prejuízo de experiências assim para uma mente em
formação? "Na infância, esse tipo de situação afeta todas as redes
neuronais, provocando até perda de células nervosas", esclarece Muszkat.
Ou seja, a cabeça de um garoto que vive em ambientes inseguros e pouco
aconchegantes tende a não funcionar direito.
De
acordo com outro relatório da AAP — este divulgado em 2012 —, a
exposição excessiva a conflitos acarreta um estresse tão elevado que
chega a comprometer o sistema imune da criança,
facilitando infecções oportunistas, além de patrocinar, lá na frente, males cardiovasculares e pulmonares, entre outros.
Sem
falar que, se não vê nos pais uma referência firme e positiva, o
rebento costuma adotar hábitos nada saudáveis. "Ele pode se tornar
inseguro e correr maior risco de se envolver com drogas", exemplifica
Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de
Psicopedagogia. Aliás, quando se abordam encrencas da vida moderna, não
devemos nos esquecer do divórcio. Embora seja uma questão exclusiva do
casal, muitas vezes são os descendentes que carregam para si o fardo da
separação. "O filho tende a se sentir impotente diante do cenário,
abrindo caminho para quadros nocivos, como ansiedade, agressividade e
transtornos alimentares", ressalta Pamela.
Que
fique claro, ninguém está defendendo a manutenção de um
matrimônioinfeliz, até porque atritos intensos e recorrentes no lar
ocasionam um mal danado à garotada. Mas é fundamental que, durante a
partilha, o jovem não fique no meio de disputas acaloradas. Se conduzido
com calma, o divórcio até abre espaço para uma relação menos sofrida
entre os pais. "Quanto menos o ex-casal se fixar no sentimento de raiva
durante a separação, menos os filhos e eles próprios serão lesados",
completa a psicóloga
O que aproxima pais e filhos
Um
estudo da Universidade McGill, no Canadá, avaliou 26 mil adolescentes
de 11 a 15 anos e concluiu que fazer refeições em família regularmente
os ajudou a se sentirem mais confiantes. Afinal, sentar-se à mesa para
comer é uma oportunidade de socializar com o jovem e descobrir eventuais
alterações no seu comportamento. Entretanto, não são apenas jantares ou
almoços que contam. "O que importa é realizar atividades que reúnam a
família com frequência e que não disputem a atenção com o celular ou a
televisão", prescreve o psicólogo Frank Elgar, um dos que assinaram o
trabalho.
Reservar
tempo para passar com seu filho só faz bem. E garantir que esses
momentos estreitem o elo entre vocês é melhor ainda, inclusive por
assegurar um futuro mais confiante e saudável para a criançada. Como
disse a banda Titãs naquela mesma música: "Família, família/ Vive junto
todo dia/ Nunca perde essa mania".
Os tempos mudaram
Há
50 anos, era papel quase exclusivo das mulheres cuidar do lar e das
crianças. Hoje, o casal se divide mais entre esses afazeres. Que bom! Ao
preparar as refeições do guri ou auxiliá-lo com as lições de casa, por
exemplo, o pai ganha a chance de se aproximar ainda mais dele. E, de
quebra, contribui para sua formação. Isso vale para qualquer família.
Divórcio: e as crianças?
Busque
preservá-las ao máximo. Evite discutir questões como pensão, partilha
de bens e visitas perto delas. E só conte quando tiver certeza da
decisão. "Ameaças trazem insegurança", atesta a psicóloga Vivien
Ponzoni, terapeuta de família e casal.
Fonte: saude.abril.com.br
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