E pensar que até a
TPM
pode afetar os sons que saem do aparelho fonador, formado por pulmões,
brônquios e traquéia. Isso, vamos logo esclarecendo, se a mulher falar
demais. O inchaço, típico dessa fase, afeta as cordas na garganta, avisa
a fonoaudióloga Márcia Toledo, que também trabalha no Instituto Cecaf.
Tudo isso mostra o quão
vulneráveis são as pregas vocais
(outro nome para as cordas) diante de fatores externos e problemas
orgânicos capazes de alterar o timbre alterações que, muitas vezes, soam
mal. O uso inadequado da voz, instrumento de trabalho de cerca de 30%
da população do planeta, tem culpa no cartório, sem dúvida. Mas todos
não só os que tiram dela o seu sustento, caso de professores, operadores
de telemarketing, locutores e tantos outros precisam ficar atentos nas
modulações, que, às vezes, indicam alguma encrenca de
refluxo gastroesofágico a câncer.
Em geral a rouquidão resulta de um pólipo, que é um
inchaço nas cordas vocais, ou um calo, que nada mais é do que um nódulo
provocado pelo atrito entre elas, exemplifica o otorrinolaringologista
Eduardo Lutaif Dolci, da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O certo é ficar de ouvidos bem ligados para diferenciar uma aspereza
vocal passageira, provocada por uma gripe ou algo assim, daquela que
denuncia um problema mais grave. Se uma modificação do tom durar mais do
que 20 dias, procure um médico, avisa Dolci. Vale mesma recomendação
para as pessoas que vira e mexe ficam roucas.
Às vezes a rouquidão é tão forte que a voz vira um fiapo,
perdendo a força até desaparecer. O risco de ficar afônico aumenta
quando se é obrigado a ingerir certos medicamentos. Os ansiolíticos, por
exemplo, interferem na circulação sangüínea e chegam mesmo a alterar o
controle dos músculos envolvidos na fala, afirma Márcia Toledo. Já os
diuréticos ressecam as cordas vocais, enquanto o ácido acetilsalicílico
dilata os vasos e pode até provocar o rompimento de um deles se a pessoa
falar demais. O que fazer?
Bem, se não for possível evitar essas drogas, capriche na
hidratação. Quem usa muito a voz ou trabalha em ambientes com ar
condicionado, que retira boa parte da umidade do ar, também deve beber
muita água ao longo do dia, indica a fonoaudióloga Mara Behlau, diretora
do
Centro de Estudos da Voz,
em São Paulo. Se apesar de todos os cuidados a voz teimar em falhar,
não é uma boa idéia apelar para tratamentos paliativos, como pastilhas
para a
garganta e sprays. Diferentemente do que se pensa, esses recursos não resolvem o problema.
Ao contrário, podem até piorá-lo. Não à toa. As cordas
vocais ficam anestesiadas, a pessoa se sente mais confortável e acaba
falando além da conta. A primeira medida para qualquer alteração de voz é
simples: repouso. Dá até para traçar um paralelo entre a voz judiada e
um atleta que torce o tornozelo e, em vez de imobilizá-lo, prefere usar
um medicamento anestésico para voltar ao jogo, compara Eduardo Lutaif
Dolci. A lesão ficará ainda mais grave. Portanto, prefira fazer alguns
minutos de silêncio.
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