Os dados do Ministério da Saúde
são de deixar os pais de cabelo em pé. Seis em cada dez crianças entre
10 e 14 anos já deram suas tragadas. Nessa faixa etária, o número das
que fumam diariamente
chega a 400 mil. Somando todos os jovens em idade escolar, ou seja,
entre 10 e 18 anos, cerca de 3 milhões, pasme! já estão completamente dependentes da nicotina.
Em matéria de tabagismo, os brasileirinhos estão entre os mais precoces:
eles dão as primeiras baforadas aos 13,5 anos, em média. Não à toa, os
especialistas apostam que a melhor maneira de diminuir o contingente de fumantes
no país e, conseqüentemente, as encrencas relacionadas ao tabaco é
conscientizar a garotada de que ficar aspirando fumaça não está com
nada. Afinal, o tabagismo é responsável por 30% das mortes por câncer em geral, 90% das que ocorrem por tumores de pulmão e 25% das provocadas por infarto e derrame.
Mas tanto os pais quanto os educadores enfrentam um dilema: como abordar esse assunto
sem chatice? Dizer simplesmente um não bem redondo ou, pior, ameaçá-los
caso insistam no hábito tem efeito contrário, adianta o oncologista
José Clemente Linhares, do Instituto de Oncologia do Paraná, em Curitiba, vencedor do 2° Prêmio SAÚDE! na categoria relacionada às crianças.
Segundo ele, é possível tratar essa questão pesada de uma maneira leve.
Aliás, foi por isso que Linhares levou nosso troféu para o Paraná. Ele e
um grupo de teatro escreveram uma peça sobre o tema que já foi
apresentada a mais de 15 mil adolescentes de escolas públicas,
particulares e outras instituições. A encenação mostra o que nos faz procurar o cigarro
e explica que devemos ser mais fortes do que a influência dos amigos ou
da mídia, resume. Depois da apresentação os jovens debatem o assunto e
escrevem depoimentos com sua opinião. Você, aliás, pode fazer algo
parecido em casa: chamar seu filho para uma boa conversa e aprender a
ouvir o que ele pensa disso tudo. Sem, de novo, caretice.
Participar efetivamente da vida dos filhos e isso significa, entre outras coisas, acompanhar de perto seu desenvolvimento
e conhecer bem seus amigos ajuda a afastar o cigarro de casa. Em geral
os estudantes passam a fumar porque precisam sentir que fazem parte do
grupo, sobretudo se a maior parte da turma já dá suas tragadas. Questão
de auto-afirmação afinal, ter um cigarrinho fumegando entre os dedos dá
mais segurança nessa fase da vida.
Manter diálogo é essencial, garante a pneumologista Maura Malcon, uma
das maiores especialistas brasileiras no tema, que se dedica a
investigar o tabagismo na garotada na Universidade Federal de Pelotas,
no Rio Grande do Sul. O adolescente é ávido por informações e, para
engatar uma boa conversa, nada melhor do que estar cheio delas, diz
Maura. Mostre reportagens e livros sobre tabagismo e converse a
respeito. O oncologista José Clemente Linhares dá outra dica: Evite a
proibição. A escolha é dele. O importante é que esteja o mais consciente
possível ao fazê-la.
Segundo os especialistas, os jovens sofrem de uma síndrome de
super-homem, porque acreditam que não vão se viciar. Uma pesquisa do Datafolha
aponta que menos da metade dos estudantes que fumam se considera
dependente da droga. Esse engano tem a ver com o desconhecimento sobre
os efeitos da nicotina uma das substâncias que mais levam à dependência, comparável à heroína, conta o psiquiatra André Malbergier, do Grupo Interdisciplinar de Estudo sobre Álcool e Drogas, da Universidade de São Paulo, a USP.
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