A síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) entrou para a história
provocando efeitos colaterais na ciência. Diante de um problema
desconhecido e altamente letal, investimentos astronômicos foram
canalizados para os centros de pesquisa. Um vírus, o da imunodeficiência
humana (HIV), movimentou uma caça às bruxas e, quando descoberto,
tornou-se inimigo público número 1. O clima era o de ameaça à espécie
humana, mas estávamos prestes a entender, com detalhes, alguns dos
mecanismos que explicam a vida. Os resultados dos estudos focados na
nova epidemia transbordaram, isto é, não ficaram restritos à aids. "A
doença acelerou o progresso científico", observa o infectologista Stefan
Cunha Ujvari, autor de A História da Humanidade Contada pelos Vírus
(Ed. Contexto).
Em meio a essa corrida, que invadiu o século 21,
aprendemos como é organizado nosso sistema imunológico e desvendamos a
natureza e as estratégias de ataque dos vírus. "A virologia se divide em
antes e depois do HIV", sentencia o infectologista Caio Rosenthal, do
Instituto Emílio Ribas, em São Paulo. Avançamos na compreensão do
genoma. "Com os estudos em HIV, passamos a identificar perfis genéticos
que acusam se uma pessoa terá uma progressão mais lenta ou rápida da
doença", conta a farmacêutica Rejane Grotto, da Universidade Estadual
Paulista, em Botucatu. O boom de informações geradas em laboratório
extrapolou os ganhos contra a aids e aprimorou a abordagem das hepatites
virais e do câncer.
"Não tenho dúvida de que o conhecimento
gerado em função do HIV ainda não foi totalmente empregado em outras
doenças", diz o infectologista Celso Granato, do Laboratório Fleury. Na
esteira do progresso, porém, exames se aperfeiçoaram e novas drogas
surgiram. A ordem de conter o vírus resultou em mais segurança nos
procedimentos médicos, como a triagem do sangue para doação e o uso de
agulhas descartáveis. São mudanças que mal notamos no cotidiano, mas que
afetam, e muito, a nossa vida.
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