Acena é clássica em filmes americanos: os grandalhões da equipe de
futebol infernizam a vida do protagonista da trama, em geral um garoto
tímido e franzino, incapaz de se impor diante da brutalidade dos
colegas. O garoto indefeso é perseguido, ridicularizado, humilhado e,
nas cenas mais dramáticas, até surrado, enquanto seus algozes saem
impunes. No decorrer da película, o personagem principal, com auxílio de
seus amigos nerds, rebela-se contra a tirania dos agressores e passa de
vítima a herói.
Na vida real, no entanto, as histórias em que há
esse tipo de violência nem sempre acabam com o mesmo final feliz e
hollywoodiano. O fenômeno conhecido como bullying tem consequências
preocupantes para a saúde física e principalmente emocional de seus
atores — tanto faz se são os agressores, as vítimas ou as testemunhas. E
o que é pior: a intimidação, o medo e a vergonha sedimentam um pacto
velado de silêncio entre os jovens. É comum que pais e educadores só se
deem conta do que está acontecendo quando a situação chega a extremos.
Diante de quadro tão crítico, a pergunta é uma só: o que fazer?
"Em primeiro lugar, manter a calma", aconselha o pediatra Aramis Antônio Lopes Neto, do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Entender o fenômeno é um excelente começo. Sem tradução direta para o
português, o termo é utilizado para designar violências físicas e
psicológicas praticadas de forma recorrente por um indivíduo ou um grupo
deles contra um mesmo colega, que acaba se tornando uma espécie de bode
expiatório. Mais frequente na escola, nada impede que aconteça no
condomínio, no bairro, na família e no trabalho — adultos também podem
sofrer com esse tormento.
A maneira de agredir varia muito:
verbal, física, moral, material e até sexual. As crianças apelidam,
batem, amedrontam, discriminam. De uns tempos para cá, e-mails, blogs,
fotos e SMSs incrementaram o arsenal da garotada — criando a variante
batizada de ciberbullying. O motivo que justifica o ato violento, em
geral, é apenas um pretexto, qualquer coisa que diferencie a vítima:
estatura, peso, pele, cabelo, sotaque, religião, notas, roupas, classe
social ou outra característica que sirva ao preconceito.
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