Sabrina
Mascarenhas de Oliveira tem 21 anos e nem sofre muito com a sua
menstruação. "Apenas sinto vontade de comer chocolate durante a TPM e
sinto um pouco de dor", conta a jovem estudante de administração que
reside em Mauá, na Grande São Paulo. Apesar de não experimentar cólicas
severas e outras complicações do ciclo menstrual, ela acredita que seria
bom acabar com o sangramento mensal. "Isso me ajudaria, mas tenho medo
do que possa me acontecer no futuro."
Sabrina
não é a única a ponderar sobre o tema. Segundo um estudo realizado pela
Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista, 32,5% das
mulheres gostariam de nunca mais menstruar e 40% sonham com uma simples
trégua, ficando mais de um mês sem sangrar. "Essa não é uma tendência
exatamente nova, mas agora a mulher se sente com mais liberdade de
escolha", diz a psiquiatra Carmita Abdo, que é coordenadora do Instituto
ProSex, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O
assunto rende debates entre amigas e gera opiniões diferentes entre os
próprios médicos. "Há dez anos, eu diria que suprimir a menstruação era
ir contra um processo natural. Hoje, porém, os métodos estão bem mais
seguros", afirma o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da
Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
Afinal, menstruar pra quê?
A
gente conhece esta história: todos os meses, o corpo da mulher se
prepara para engravidar e, quando isso não acontece, o óvulo amadurecido
é liberado junto com parte do endométrio, a parede uterina. Isso é um
sinal de que o organismo feminino está saudável e que os hormônios estão
cumprindo direito o seu papel. Ponto.
Para
interromper o ciclo, os especialistas indicam anticoncepcionais já
conhecidos. "A diferença é que a mulher continua utilizando o método sem
os intervalos geralmente recomendados", explica o ginecologista Jarbas
Magalhães, secretário da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação
Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
A
maioria desses contraceptivos age de forma semelhante: trata-se de
moléculas artificiais que agem como o estrogênio e o progestagênio, dois
hormônios produzidos durante o ciclo menstrual. Ao simular essas duas
substâncias, o remédio encena a fecundação que não ocorre. "O
sangramento que as mulheres têm no intervalo da pílula é fruto apenas da
falta do hormônio, e não uma menstruação legítima", esclarece a
ginecologista Lucila Pires Evangelista, do Hospital Israelita Albert
Einstein, em São Paulo.
Existem
várias alternativas para deixar de menstruar (veja o quadro na próxima
página), mas alguns médicos são contra qualquer uma delas em mulheres
jovens e saudáveis. "Embora esses hormônios pareçam seguros, ainda não
conhecemos os efeitos no corpo a longo prazo", argumenta o ginecologista
Flávio Zucchi, do Hospital Santa Catarina, em São Paulo.
A
turma de jaleco só concorda em um ponto: para algumas mulheres, parar
de menstruar é essencial. "Indico para pacientes que sofrem com cólicas
muito intensas e endometriose, quando o tecido que reveste o útero
cresce demais", completa Zucchi.
Sem
o sangramento periódico, a tensão pré-menstrual, a famosa TPM, é outra
chateação que dá adeus — pelo menos temporariamente. "Em alguns casos
graves, em que a sensibilidade fica muito exacerbada, a supressão da
menstruação pode ser mais uma arma contra a TPM, mas não podemos fazer
dela o único recurso possível", opina o psiquiatra Alexandre Saadeh, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Antes
de tomar qualquer decisão, o mais importante é conversar com seu
ginecologista. "É preciso avaliar o seu histórico e realizar uma bateria
de exames, como o ultrassom transvaginal", recomenda o ginecologista
Waldemir Rezende, do Hospital Santa Catarina. A supressão é — ou deveria
ser — descartada para obesas, hipertensas e diabéticas descompensadas.
Depois
de iniciado o tratamento, é importante ficar de olho no comportamento
do organismo. "Até mesmo bons médicos se equivocam na escolha do método,
e só o acompanhamento vai revelar se a opção foi certeira", diz César
Eduardo Fernandes.
Fonte: saude.abril.com.br
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