O
mais antigo animal domesticado pelo ser humano é o cachorro. Faz uns
100 mil anos que nossa espécie conta com a companhia e a lealdade do
bicho, seja para se divertir, seja para ganhar apoio em algumas tarefas e
se proteger. Passados milênios, a ciência prova que o homem tem ainda
muito o que desfrutar dessa parceria — até indiretamente. Maior exemplo
disso é a invenção do engenheiro químico Hossam Haick, do Instituto de
Tecnologia de Israel. Ele se baseou na impressionante capacidade de faro
dos cães para criar um aparelho capaz de detectar doenças pelo hálito.
Em seu mais recente estudo, feito em parceria com pesquisadores
chineses, Haick descobriu que seu "bafômetro" pode revelar um câncer de
estômago com apenas algumas sopradas.
"Nosso
teste detecta um grupo específico de moléculas voláteis presentes no
hálito", resume o israelense. Essas substâncias, digase, são muito
delicadas e evaporam facilmente. "Todas as células do corpo, saudáveis
ou cancerosas, emitem diferentes partículas para o sangue", ensina o
cientista. O desafio, pensando em métodos de diagnóstico, está em criar
maneiras de identificá-las e usá-las como boas pistas de que algo não
vai bem.
Na
investigação sobre os tumores estomacais, os autores testaram o
equipamento em 130 pessoas que se queixavam de algum desconforto
gástrico, como dores, sensação de queimação ou azia constante. Certeiro,
o exame chegou a diferenciar uma simples gastrite de um câncer com 90%
de precisão. A ideia, agora, é avaliar a tecnologia em mais gente para
assegurar sua eficácia.
A
novidade ganha importância pela dificuldade de flagrar precocemente o
câncer de estômago — no Brasil, o diagnóstico tardio ocorre em três a
cada quatro casos. Para detectar tumores ali, os médicos recorrem a
endoscopias e biópsias, métodos caros e invasivos. "A estratégia desses
novos aparelhos é limitar o grupo que vai precisar mesmo de endoscopia,
exame complexo do ponto de vista da saúde pública", analisa o cirurgião
oncológico Heber Salvador, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.
Enquanto
os estrangeiros buscam formas mais ligeiras e econômicas de detectar
tumores, cientistas brasileiros investem em aparelhos para checar se o
coração está ok. Foi o caso da parceria entre o Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto do Coração (InCor). Tudo
começou quando o cardiologista Fernando Bacal, coordenador do Núcleo de
Transplante Cardíaco do InCor, observou um hálito bem característico em
pacientes com insuficiência cardíaca avançada, doença que enfraquece o
coração e causa uma série de complicações — de falta de ar a
comprometimento renal. "Em minha experiência, notei que essas pessoas
exalavam um cheiro específico de acetona", conta o médico.
A
partir daí, ele procurou os químicos da USP, que aceitaram o desafio de
conceber um aparelho com a capacidade de apontar, por meio do hálito,
descompensações no músculo cardíaco. "Nosso trabalho foi criar um
dispositivo fácil de manusear, que pudesse ser levado a campo sem
precisar de muitos recursos", relata o químico Guilherme Lopes Batista,
um dos autores do protótipo.
A
invenção brasileira, feita com materiais bem simples, como pedras
porosas utilizadas em aquários ornamentais, exige que o paciente assopre
o bocal de um recipiente de vidro até inflar um saco plástico. O
material é levado para o laboratório. A água, que preenche o fundo do
vasilhame, passa por uma análise. A presença de acetona, sinal de
insuficiência cardíaca, é detectada nesse momento. "Para conseguir
funcionar, o coração doente quebra alguns ácidos graxos a fim de obter
energia, processo que libera acetona para a circulação", explica Bacal.
Apesar
de ainda estar sob estudo, a ideia dos especialistas é criar versões
comerciais num futuro próximo. "Estamos buscando parcerias para
viabilizar a produção de dispositivos que poderão ser utilizados em
consultórios e até em casa", conta Batista.
Já
que falamos em usar o que escapa da boca como dedo-duro de apuros no
peito, convém lembrar que a falta de cuidados na limpeza de dentes,
língua e gengiva também coloca a saúde cardiovascular em risco. "Com a
proliferação de bactérias na cavidade bucal, elas podem escapar de lá e
chegar ao músculo cardíaco", diz o cardiologista Abrão Cury, do Hospital
do Coração, em São Paulo. Essa invasão causa a endocardite, infecção
severa capaz de levar o órgão à falência.
Fonte: saude.abril.com.br
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