Nos últimos anos, inúmeras pesquisas apontaram o leite como
um vilão do organismo. Ele foi incriminado por causar alergias em
pessoas sensíveis a suas proteínas e desconforto intestinal em quem tem a
chamada intolerância à lactose, o açúcar da bebida. Em tempos dominados
por produtos light, até a gordura do leite e de seus derivados se
tornou um entrave à dieta. Mas, na contramão, os especialistas começam a
fazer justiça e se render aos estudos que comprovam as benesses e a
complexidade nutritiva dos alimentos lácteos — principalmente quando o
assunto é proteger o coração.
De um trabalho recente da
Universidade do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, vem o
argumento de que esses produtos ajudam a equilibrar a pressão arterial.
Um dos responsáveis pelo benefício seria um peptídeo, um pedaço da
proteína do leite, capaz de anular uma enzima que provoca o
estreitamento dos vasos sanguíneos — o estopim para a hipertensão.
Salvas do aperto, as artérias se dilatam e liberam a circulação. "Os
peptídeos presentes na caseína — que representa 80% das proteínas do
leite — e também nas outras proteínas do soro do produto têm um potente
efeito de inibição dessa enzima", afi rma o nutrólogo paulista Edson
Credídio, autor do livro Leite, o Elixir da Vida (Editora Ottoni).
Já
uma revisão conduzida por estudiosos da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo constata que o consumo rotineiro das versões
mais magras dos produtos lácteos, como o leite desnatado e o queijo
branco, está ligado a uma queda na incidência de hipertensão e diabete
tipo 2. Tamanha vantagem seria proporcionada por um ingrediente
fornecido em abundância pelo leite e seus derivados, sobretudo os tipos
dotados de baixos teores de gordura: o cálcio. Pois é, sua importância
vai além da tarefa de conservar o esqueleto. No artigo assinado pelos
experts brasileiros, ficou registrado que o mineral contribui com a
vasodilatação, melhora o aproveitamento da glicose e favorece o
equilíbrio do peso corporal. São motivos sufi cientes para acreditar que
o cálcio é um amigo do peito.
Para desfrutar dos benefícios do
cálcio, recomenda-se incluir na rotina de três a quatro porções diárias
de leite ou derivados que correspondam, no total, a um volume de mil a 1
300 miligramas do mineral. Para você ter uma ideia, 240 gramas de leite
integral ou iogurte, quantidade equivalente a dois copos americanos,
oferecem 300 miligramas de cálcio. Embora alimentos como couve e feijão
também forneçam o nutriente, os lácteos são os que proporcionam sua
melhor absorção. O leite desnatado e o queijo branco contêm volume de
cálcio ligeiramente menor que os tipos integrais, mas, ao priorizá-los
na dieta, estamos excluindo a gordura saturada, que não é bemvinda
porque eleva o risco cardiovascular e colabora com os quilos extras.
"Um
dos mecanismos que justificam a relação mais cálcio/menos peso é a
capacidade que o mineral tem de atuar dentro da célula de gordura,
provocando sua quebra e diminuindo seu acúmulo no organismo", explica a
nutricionista Mariana Del Bosco, da Associação Brasileira para o Estudo
da Obesidade e da Síndrome Metabólica. O nutriente também seria capaz de
formar um complexo com parte dos lipídeos provenientes do cardápio,
expulsando-os por meio das fezes. E ainda reduziria o acúmulo de energia
na forma de gordura porque contribui com a liberação de calor,
aumentando o gasto calórico, e otimizaria o uso da insulina, hormônio
que regula o apetite.
0 comentários:
Postar um comentário