Não há dúvidas de que abusar da gordura saturada seja
perigoso ao coração. E o leite, em sua versão integral, também carrega a
tal da substância. Mas os especialistas se apressam em defendê-lo: é
possível, sim, degustá-lo sem riscos dentro de um cardápio equilibrado.
"O leite e seus derivados são necessários para um estilo de vida
saudável, e nosso organismo precisa de pelo menos 7% das calorias vindas
da gordura saturada", afirma o cardiologista Daniel Magnoni, do
Hospital do Coração, em São Paulo. "Há alimentos muito mais gordurosos
do que o leite que, esses sim, devem ser restritos na dieta, como
biscoitos e embutidos", diz a nutricionista Simone Freire, especialista
em ciência dos alimentos, de São Paulo.
Para reforçar as
vantagens oferecidas pelos lácteos ditos gordos, um estudo da Escola de
Saúde Pública Harvard, nos Estados Unidos, acaba de destacar o papel
protetor de um tipo de ácido graxo típico do leite integral: o ácido
linoleico conjugado, ou CLA. "Há evidências de que ele iniba o acúmulo
de gordura e estimule o uso das reservas gordurosas como fonte de
energia, facilitando a manutenção do peso", explica Edson Credídio. "No
entanto, talvez o CLA seja mais eficaz para quem pratica atividades
físicas."
Já deu para entender por que o leite, esse reduto
versátil de cálcio, é tão importante. Mas saiba que no Brasil o consumo
diário do produto não ultrapassa 50% do que seria o ideal. "As pessoas
ainda trocam os lácteos por sucos artificiais e refrigerantes. E o pior é
que isso tem ocorrido a partir dos 4 anos de idade, uma das fases em
que mais se precisa do leite", observa Simone Freire. Essa defasagem
prejudica o depósito de cálcio em crianças e adolescentes e propicia um
desgaste precoce da estrutura óssea em adultos. Além disso, a carência
do mineral pode ser ainda mais determinante para a hipertensão do que o
próprio excesso de sal na dieta. Lembre-se de que não é difícil
convidá-lo à mesa devido à variedade de ofertas: queijos, iogurtes,
vitaminas...
Só é preciso pontuar que, para aproveitar bem o
cálcio, nem todo alimento pode ser consumido com o leite. Alguns
nutrientes inibem a absorção do mineral pelo organismo. É o caso do
excesso de cafeína e de ferro, presente na carne vermelha. Lanches
abastecidos com leite ou derivados, sanduíches naturais e frutas são
perfeitos para ingerir ao menos duas horas antes ou depois do almoço e
do jantar — refeições que costumam ser contempladas com um bife. O sal
também compete com o cálcio. "O sódio em excesso fi ca circulando no
sangue e, quando encontra o cálcio nos rins, é capaz de expulsá- lo pela
urina", explica Simone.
Ah, nem pense que é possível eliminar a
hipertensão investindo em mais cálcio do que o recomendado. "O corpo se
autorregula. Se o consumo do mineral é muito alto, sua absorção
diminui", avisa Mariana Del Bosco. Existe também um mecanismo de
compensação pelo qual o nutriente é mais absorvido nas dietas em que não
aparece em grandes quantidades. Exagerar, portanto, é um ledo engano. A
receita certa exige que a gente dose bem os alimentos, sempre
concedendo um bom espaço à turma do leite. O coração agradece.
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