A depressão está na balança e, parece, bem acima do peso. A obesidade foi parar no divã e os quilos a mais estão recheados de tristeza e
abatimento. E os médicos das mais diversas especialidades concordam:
uma doença está fortemente associada à outra. Aproximadamente 30% das
pessoas que procuram tratamento para emagrecer apresentam depressão, diz Anete Abdo, endocrinologista do Projeto de Atendimento ao Obeso, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em comparação com os magros, quem sofre com o excesso
de peso tem até três vezes mais risco de, em alguma fase da vida, ficar
deprimido. É uma via de dois rumos, salienta a psiquiatra Alexandrina
Meleiro, do Instituto de Psiquiatria, também do HC paulistano. Segundo
ela, esse problema emocional pode ter como sintoma o aumento do apetite
e, até mesmo, incontroláveis compulsões por comida. São as chamadas farras alimentares, episódios em que o indivíduo come à beça, depois se arrepende e fica com baixa auto-estima, explica o psiquiatra Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo.
No Hospital São Vicente de Paulo, no Distrito Federal, de 300 pessoas que sofrem com a depressão e
são tratadas com antidepressivos, 186 estão com a barriga saliente, com
gordura de sobra. As informações são de um estudo recente da Universidade de Brasília.
Esses dados não apontam como se dá a associação entre um mal e outro,
mas demonstram o quanto ela é forte, diz a nutricionista Helicínia
Peixoto, autora da pesquisa.
O trabalho também não avaliou se o que surgiu primeiro foi a grande circunferência abdominal ou a tristeza
patológica. Entretanto, uma das hipóteses é a de que os remédios tenham
impulsionado o ganho de peso algo que comprovadamente ocorre entre os
mais diferentes tipos de antidepressivo. Alguns deles
aumentam o apetite e outros alteram o metabolismo. Nesse caso, mesmo que
o indivíduo continue comendo a mesma quantidade de calorias, ele acaba
engordando, pondera Acioly Lacerda.
Rolha de poço, baleia ou simplesmente gordo é quase certo que quem teve
problemas de peso durante o período escolar sofreu com apelidos nada
carinhosos como esses. Na vida adulta, embora o convívio social seja
mais polido e politicamente correto, o preconceito continua. O obeso não
cabe na cadeira do cinema, é motivo de piada entre os amigos e está fora do padrão de beleza.
Ele se sente deslocado, diz Alexandrina Meleiro. Aí é que aparece o
risco de desenvolver males do trato emocional. A pessoa fica
insatisfeita com a própria imagem e tem vergonha de ir à praia,
exemplifica a psicóloga Mara Lofrano, do Grupo de Estudos da Obesidade
(GEO) da Universidade Federal de São Paulo.
A apatia, a sonolência, as dores no corpo, o desânimo e a fadiga, muitas vezes já existentes em decorrência do acúmulo de gordura
no corpo, tornam-se mais freqüentes e são absorvidos como
características de personalidade pelo próprio indivíduo. Pronto, a
depressão pode estar instalada. O aparecimento dessa doença é mais comum
em jovens e mulheres com obesidade severa, o tipo mais grave do
problema, nota Anete Abdo. A combinação é explosiva: torna o tratamento
ainda mais difícil e intensifica a gravidade de ambos os males.
Surge, a partir daí, uma espécie de ciclo gorduroso. A pessoa come para
compensar a tristeza e, simultaneamente, a prostração gera mais barriga.
Internamente, no organismo, a depressão aumenta a circulação do
cortisol. Essa substância, que também é conhecida por hormônio do
estresse, pode induzir ao acúmulo de células de gordura na região abdominal.
Além disso, a melancolia profunda reduz a produção de outros dois
hormônios, a serotonina e a noradrenalina. O resultado dessa disfunção é
aquela vontade louca de comer carboidratos isto é, doces, pães e
massas.
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