Em
julho de 2011, a Organização Mundial da Saúde divulgou uma triste
notícia: estão crescendo os casos de ansiedade e depressão em todo o
mundo. Para piorar, nosso país foi apontado como o campeão na incidência
do distúrbio — 10,8% dos brasileiros são considerados depressivos
graves. Uma das razões para esse quadro alarmante é o ritmo de vida que
levamos. "Sedentarismo, cobranças maiores no ambiente de trabalho e má
alimentação são fatores que influenciam no aparecimento de transtornos
psiquiátricos", analisa Rafael Freire, psiquiatra da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, na capital fluminense.
Para
combater os males da mente, os médicos costumam receitar remédios como
os ansiolíticos, que barram a ansiedade e ajudam a tratar certos tipos
de depressão. O perigo é o exagero na hora de recomendar esse tipo de
tratamento: entre 2006 e 2010, a venda dos famosos tarja preta para a
cabeça aumentou 36% no Brasil. "A população está mais estressada, mas
isso não significa que haja necessidade de prescrever mais
ansiolíticos", pondera o psicobiólogo Ricardo Tabach, da Universidade
Federal de São Paulo. "Só que o próprio paciente costuma pedir o remédio
como solução para todos os problemas", lamenta Freire.
Como
alternativa para esse uso excessivo, que pode causar sérios efeitos
colaterais e até dependência, alguns apontam para os fitoterápicos, que
são feitos com plantas e agem de forma semelhante às drogas sintéticas.
Quem nunca ouviu o conselho de tomar chá de camomila para se acalmar? A
sabedoria popular indica há tempos algumas ervas como saída para o
estresse e as noites maldormidas.
No
entanto, vale esclarecer uma confusão corriqueira. "Os fitoterápicos,
como todo medicamento, passam por uma série de pesquisas para comprovar
sua eficácia. Já as plantas medicinais podem ser usadas de outras
maneiras, no preparo de chás", diferencia o professor de farmacologia
Hudson Canabrava, da Universidade Federal de Uberlândia, no interior de
Minas Gerais. E nem todos os remédios naturais já caíram nas graças dos
cientistas. É preciso conhecê-los bem antes de correr até a farmácia
fitoterápica mais próxima.
Na
hora de comprar fitoterápicos, procure ficar atento ao rótulo do
produto. Nele, há o número de registro da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, a Anvisa. "Para ser registrado, o remédio deve passar por
testes que comprovam sua eficácia, segurança e qualidade", esclarece
Mônica Soares, especialista em regulação de fitoterápicos da Anvisa.
Além disso, o órgão também lançou em 2011 o Formulário de Fitoterápicos
da Farmacopeia Brasileira. O guia explica aos profissionais de saúde
como manipular 58 das plantas medicinais mais conhecidas, auxiliando na
produção desse tipo de medicamento.
Entre
essas plantas, estão a passiflora, a valeriana e a erva-de-são-joão.
Esse trio é bastante utilizado pela indústria farmacêutica em fórmulas
que tratam casos de depressão leve a moderada. "As três plantas contêm
substâncias que atuam nos neurônios e diminuem a atividade do sistema
nervoso, relaxando o indivíduo", explica Ricardo Tabach. "A principal
vantagem em relação ao ansiolítico é o fato de a concentração dos
princípios ativos ser menor e misturada a outros compostos, o que abaixa
o risco de efeitos colaterais e dependência", expõe o doutor em
farmacologia João Batista Calixto, pesquisador da Universidade Federal
de Santa Catarina, em Florianópolis. "Os resultados do tratamento à base
de fitoterápicos demoram mais para aparecer, mas seus efeitos adversos
são muito menos agressivos", completa Hudson Canabrava.
Se
as crises não são graves, os chás podem ser uma aposta certeira. "Os
princípios ativos estão presentes de maneira mais branda, o que reduz a
probabilidade de complicações", atesta Tabach. Busque comprá-los em
farmácias de confiança e conferir no rótulo o nome científico da planta.
E,
mesmo sendo de origem natural, os fitoterápicos devem ser consumidos
com cautela. Um dos principais perigos é a interação medicamentosa, que
pode anular ou até potencializar drogas que estejam sendo tomadas
paralelamente. "As plantas possuem milhares de substâncias químicas
capazes de reagir de maneira indesejada com medicamentos alopáticos
comuns. A passiflora, por exemplo, que é um calmante suave, causa
sonolência excessiva se combinada com outros remédios", adverte
Canabrava. Não caia no engano de pensar que as plantas são inofensivas. A
orientação médica é indispensável. Sempre.
E os florais? Funcionam mesmo?
Apesar
de as gotinhas à base de flores fazerem sucesso há muitos anos, seu
desempenho positivo ainda não foi comprovado de vez pela ciência. Tanto é
que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, não
regulamenta o comércio dos florais. "O que acontece muitas vezes é o
efeito da sugestão, ou seja, a pessoa toma o floral confiando em seus
resultados. Esse processo, também conhecido como placebo, é responsável
por cerca de 30% da eficácia até dos medicamentos tradicionais", explica
Hudson Canabrava, professor de farmacologia da Universidade Federal de
Uberlândia, em Minas Gerais.
Fonte: saude.abril.com.br
0 comentários:
Postar um comentário