Chás,
extratos de ervas, suplementos naturais... Eles estão na boca do povo
e, de tempos em tempos, ganham inclusive garotas-propaganda entre as
celebridades que exibem suas curvas na televisão. A impressão é que nem
as plantas escapam do ritmo cíclico da moda. Não à toa, quem quer — ou
precisa — perder peso costuma se dividir quando uma nova espécie está em
evidência: uns a recebem com desconfiança, outros a acolhem como a
fórmula secreta para vencer a contenda contra a balança. A verdade é que
dá para ficar facilmente perdido diante de inúmeras promessas, na
maioria das vezes rejeitadas pelos médicos.
A
ciência, porém, não pode desprezar o potencial de certas plantas para
integrar uma das frentes de combate à epidemia de obesidade. Embora não
sejam a panaceia em matéria de perda de peso, alguns fitoterápicos já
passam por testes rigorosos e demonstram seus bons efeitos. Não
substituem mudanças de hábito nem, em alguns casos, outros remédios, mas
sua ajuda pode ser bem-vinda na hora de afinar o corpo.
Que
o diga o popular chá verde. Já existiam indícios de sua capacidade de
eliminar gordura e, agora, um estudo brasileiro comprova seus préstimos
em seres humanos com quilos a mais. A bebida feita com a planta Camellia
sinensis foi alvo de uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no
interior paulista. A educadora física Gabrielle Aparecida Cardoso
recrutou mulheres com sobrepeso ou obesidade leve, todas entre 20 e 40
anos. Elas foram divididas em quatro grupos. O primeiro tomava o chá
gelado (10 gramas do pó) de manhã e à tarde. O segundo ingeria um
preparo falso, o placebo. O terceiro consumia a infusão geladinha dez
minutos antes de fazer musculação. E o quarto tomava a bebida fajuta
antes de malhar.
"Ao
compararmos os dois primeiros grupos, notamos que apenas as
participantes que tomaram o chá emagreceram", conta Gabrielle. "Já entre
as mulheres que se exercitaram, observamos que ambos os grupos perderam
peso. Mas a redução de gordura corporal foi três vezes maior entre as
voluntárias que consumiam a bebida", relata. Os dados obtidos mostram
que a planta ajuda a esvaziar os redutos gordurosos, diminuir a
circunferência abdominal e ainda ganhar massa muscular, dando um gás
para a prática de atividade física.
O
poder do chá verde parece residir sobre substâncias chamadas
catequinas. "Elas inibem uma enzima que atrapalha um mecanismo de queima
de gordura e, ainda, elevam o gasto energético do corpo", explica
Gabrielle. Aliás, de acordo com a pesquisa, ingerir a infusão em
temperatura fria teria a vantagem de torrar mais calorias. "A bebida
melhora a disposição, o que incentiva o indivíduo a se mexer e, assim,
emagrecer", avalia a pesquisadora.
Outro
fitoterápico visitou as bancadas de laboratório depois de começar a
fazer sucesso na mídia. Trata-se da pholia negra, um extrato de plantas
do gênero Ilex, do qual faz parte, por exemplo, a famosa erva-mate. Suas
cápsulas foram submetidas ao crivo científico em um estudo com ratos
coordenado pela bióloga Maria Martha Bernardi na Universidade de São
Paulo. "Dividimos os animais com sobrepeso em três grupos: o primeiro só
comeu uma ração convencional, o segundo ganhou também a pholia negra e o
terceiro recebeu sibutramina, remédio usado para controlar o apetite",
conta a especialista em farmacologia. Após um mês, os investigadores
repararam que a perda de peso foi similar nos dois últimos grupos: os
ratinhos se livraram, em média, de 10% da sua massa corporal.
"Diferentemente
da sibutramina, que age no sistema nervoso central, a pholia negra
desacelera a atividade do estômago, fazendo com que a comida fique mais
tempo lá dentro", explica Maria Martha. Dessa forma, o fitoterápico
conseguiria deixar a pessoa saciada por um período maior.
Enquanto
aguardamos pesquisas que avaliem o desempenho do extrato em seres
humanos, vale voltar os olhos para o Oriente, de onde vem a maioria das
últimas fórmulas naturais antiobesidade que chegaram ao país. É o caso
das cápsulas do óleo de cártamo, cultuado há anos em países asiáticos. O
suplemento, extraído das sementes dessa planta, costuma surtir efeito
após seis meses — ele deve ser ingerido antes das refeições. "Seus
ácidos graxos essenciais aumentam a oferta de leptina, o hormônio da
saciedade", explica a nutricionista Stefania Valente da Silva, do
laboratório Herbarium, um dos fabricantes do produto.
O
óleo de cártamo tem ainda outro mecanismo de ação: ele ativa o tecido
adiposo marrom, reserva que, de maneira diversa da famigerada gordura
branca, eleva a temperatura corpórea e faz queimar calorias. "Só que o
organismo gasta a energia estocada na gordura branca", diz Stefania. Da
Ásia vem outro reforço pró-saciedade. O laboratório Galena trouxe para o
Brasil um suplemento à base de pinho coreano, disponível na forma de
sachês em farmáciasde manipulação. O óleo da planta tem uma substância
que estimula a liberação de hormônios que dão sensação de barriga cheia.
Quer mais? Destaque recente, a indiana Mucuna pruriens ainda está sob
investigação, mas parece atuar em uma via alternativa. "Trabalhos
mostram que ela eleva os níveis de um neurotransmissor ligado ao prazer,
o que ajudaria a diminuir a compulsão alimentar", diz a nutricionista
Andréia Naves, do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional, em São Paulo.
Apesar
de tantas opções e expectativas, Há especialistas que continuam vendo
as plantas com reservas. "Ainda faltam estudos em larga escala e dados
de eficácia e segurança", diz o endocrinologista Marcio Mancini, do
Hospital das Clínicas de São Paulo. Do outro lado, pesquisadores querem
explorar ainda mais o potencial da flora brasileira. "Estamos testando
mais de 2 mil plantas amazônicas e é provável que algumas delas tenham
efeito contra o excesso de peso", conta Martha, que hoje atua na
Universidade Paulista. Se a natureza oferece ajuda — e a ciência aprova
—, não custa aceitar.
Consulte o especialista
Um
recado a todos que desejam emagrecer com o auxílio de um fitoterápico:
nunca saia por aí ingerindo um produto sem a indicação e a orientação de
um médico ou de um nutricionista. Lembre-se de que, em dosagens
equivocadas ou misturados a remédios, os compostos das plantas podem
expor o organismo a uma série de riscos, inclusive fatais. Outro aviso:
jamais substitua um medicamento por uma erva com a pretensão de obter o
mesmo efeito. Também não vá atrás dos conselhos dados por amigos: o que
ajudou no caso deles pode ser mal tolerado pelo seu corpo. E, sempre que
for ao médico, não esconda dele que faz uso de um produto à base de
plantas.
Efeito sobre a ansiedade
Algumas
plantas apresentam propriedades calmantes, caso da melissa e da
passiflora, e, assim, em tese, poderiam ajudar algumas pessoas a
suprimir aquela vontade louca de comer para aplacar os ânimos. Contudo,
faltam estudos que legitimem sua eficiência no controle do apetite e do
peso.
Atenção à procedência
Existem
diversas versões e marcas de fitoterápicos disponíveis no mercado, a
maioria com venda livre. Por isso, fique de olho nos rótulos e dê
preferência a produtos fabricados por laboratórios e com selo de
aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Plantas
Nome popular: Chá verde
Nome científico: Camellia sinensis
Origem: Índia e China
Partes utilizadas: Folhas
Formas de consumo: em infusão, por meio de sachês, bebidas prontas e cápsulas
Nome popular: Pholia negra
Nome científico: Ilex paraguariensis(e outras)
Origem: Diversas regiões, entre elas América do Sul
Partes utilizadas: Folhas
Formas de consumo: Cápsulas do extrato
Nome popular: Pinho Coreano
Nome científico: Pinus koraiensis
Origem: Coreia
Partes utilizadas: Óleo da castanha ou pinha
Formas de consumo: Sachês, disponíveisem farmácias de manipulação, e cápsulas
Nome popular: Mucuna
Nome científico: Mucuna pruriens
Origem: Índia, África e Caribe
Partes utilizadas: Sementes e frutos
Formas de consumo: Cápsulas
Fonte: saude.abril.com.br
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