Rugas,
às vezes calvície, cabelos brancos... A natureza sabe bem como avisar o
homem que os anos estão passando. E, nesse pacote de mudanças, algumas
inevitáveis, a artrose, doença que acomete as articulações, sempre
esteve relacionada a pessoas, por assim dizer, mais experientes. Muitos
consideravam as dores nas juntas tão normais nos vovôs e vovós quanto os
outros sinais da terceira idade citados acima. Pois novos achados
desafiam esse senso comum. "Hoje em dia, sabe-se que a artrose é uma
doença muito séria, que não está relacionada ao processo natural de
envelhecimento", alerta a ortopedista Márcia Uchôa de Rezende, chefe do
grupo de doenças osteometabólicas do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Essa
nova noção é influenciada por pesquisas que começam a investigar a
relação de alguns distúrbios metabólicos e a osteoartrite, alcunha
utilizada pela comunidade científica. Um desses indicativos veio de um
estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que
descobriu a relação entre os níveis irregulares de glicose nos
diabéticos e o risco maior de desenvolver a inflamação nas dobradiças do
esqueleto.
Nas
cobaias da experiência, a "doença do sangue doce" contribuiu para a
deterioração da cartilagem, o início de um processo doloroso de
alterações nas estruturas da articulação. "As pesquisas sobre o diabete
normalmente focam nos problemas cardiovasculares e esquecem os efeitos
secundários do excesso de açúcar na circulação", adverte a
fisioterapeuta Sandra Aparecida Atayde, autora do artigo e professora da
Universidade Paulista.
A
atividade física é primordial no tratamento tanto da artrose quanto do
diabete. A questão é que os incômodos nas juntas podem impedir o
suadouro. "As dores muitas vezes impossibilitam o exercício, que traria
benefícios para as duas doenças", conta o epidemiologista americano
Yiling Cheng, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta,
Estados Unidos. Felizmente existem modos de fugir desse círculo
vicioso.
Uma
das saídas para esse impasse está na água: os esportes aquáticos são os
mais recomendados para quem tem artrose, em razão do baixo impacto dos
movimentos. Mas é preciso prestar atenção no ambiente antes de se
matricular nas aulas de hidroginástica. "Quando a doença está avançada,
fica difícil subir e descer as escadinhas da piscina", lembra o
reumatologista Nilton Sales, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
Para evitar essa chateação extra, procure academias ou clubes com
instalações adequadas, com rampas próprias para entrar na água ou
degraus mais largos e menos íngremes do que os convencionais.
A
alimentação saudável é outro fator que contribui para melhoras no
quadro da artrose e do diabete: "A dieta deve incluir comidas ricas em
gorduras poli-insaturadas, fibras e proteínas", sugere o
endocrinologista Alex Leite, do Hospital e Maternidade São Luiz, na
capital paulista. Itens como carne vermelha, peixe e ovo, cheios de
colágeno, são bemvindos. Sem contar que já existem no mercado alguns
suplementos alimentares ricos nesse tipo de proteína - lembrando, é
claro, de conversar com seu médico antes de começar a ingerir qualquer
produto novo.
Gordura na jogada
A
exemplo do diabete, o colesterol em excesso adora atacar as juntas. Os
especialistas ainda não conseguiram estabelecer uma relação direta entre
as moléculas de LDL e o incômodo articular, mas algumas pesquisas já
sugerem certas ligações tenebrosas. Os níveis elevados dessa gordura
estão associados à obesidade. E o tecido adiposo, que cresce com o
aumento de peso, passa a produzir várias substâncias prejudiciais às
articulações.
Como
se isso não bastasse, o peso extra também sobrecarrega o trabalho de
joelhos, quadris, tornozelos e companhia. Para piorar, um trabalho da
Universidade George Washington, nos Estados Unidos, comprova que a
artrose faz parte da síndrome metabólica, ao lado de distúrbios como
hipertensão arterial, obesidade, perda de albumina e - veja só -
colesterol e açúcar elevados no sangue. Os pesquisadores descobriram que
problemas como resistência à insulina, formação de placas nos vasos
sanguíneos e artrose tinham uma mesma origem molecular.
Diante
de informações tão preocupantes, o diagnóstico precoce da osteoartrite é
fundamental para evitar seu agravamento. Só que os raios X, largamente
utilizados nas clínicas médicas, não flagram a doença em seu estágio
inicial. "E exames mais completos, como ultrassonografias e marcadores
bioquímicos, ainda são caros, embora devam se tornar mais acessíveis em
breve", indica o reumatologista Ibsen Bellini Coimbra, professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo.
Para
quem já sabe que precisa conviver com esse mal, a ciência tem como
domá-lo. "Alguns medicamentos protegem a cartilagem que ainda não foi
afetada, enquanto anti-inflamatórios combatem a dor", diz a fisiatra
Pérola Grinberg Plapler, diretora da divisão de medicina física do IOT.
Mas o melhor, convenhamos, é prevenir o perrengue e garantir uma
maturidade mais tranquila.
É possível evitar?
Para
se precaver contra a degeneração da cartilagem, a melhor atitude é
apostar numa vida saudável. "O que afasta a artrose é a mesma coisa que
previne o infarto e a demência: exercício físico e magreza", afirma a
ortopedista Márcia Uchôa de Rezende. Praticar algum esporte com
regularidade fortalece a musculatura que sustenta a articulação. De
maneira geral, isso diminui a sobrecarga e o risco de lesões.
Mil e uma nomenclaturas
Artrose,
osteoartrose, osteoartrite... Qual é o certo? Um consenso estabeleceu
que os médicos devem usar entre si osteoartrite. Para o público leigo, o
mais fácil é empregar o termo popular artrose. Essa diferenciação ajuda
a não confundir artrose com artrite reumatoide, doença autoimune que
também ataca as articulações, mas tem causas e origens bem diferentes.
O ataque do diabete
Açúcar em demasia desregula as células do tecido conjuntivo
1. Da circulação para as juntas O
diabético tem uma quantidade extra de glicose passeando por veias e
artérias. Esse sangue mais adocicado chega às articulações através da
sinóvia, membrana produtora de um fluido que alimenta a cartilagem.
2. Cartilagem em pé de guerra O
açúcar atrapalha o trabalho dos condrócitos, células especializadas na
fabricação de colágeno, material que preenche as cartilagens. E a
glicose ainda turbina a produção de enzimas que aniquilam as moléculas
dessa proteína.
3. Amortecimento detonado Com
os condrócitos danificados e o extermínio de colágeno de vento em popa,
a cartilagem vai afinando e perdendo as funções de absorver impacto e
facilitar movimentos. Essa mudança afeta toda a articulação. Em sua fase
aguda, a dor da artrose é intensa.
Fonte: saude.abril.com.br
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