Quando
o relógio da vida avança além dos 60 anos, algumas peças do cérebro
podem começar a enferrujar. Mas um problema em especial é capaz de
acentuar dramaticamente esse declínio, dizimando áreas como o hipocampo e
o córtex, responsáveis pela memória, aprendizado e capacidade de
planejamento. Estamos falando da doença de Alzheimer, condição em que
uma parte dos 100 bilhões de células nervosas e dos 100 trilhões de
conexões entre elas, as sinapses, é destruída de maneira lenta e
progressiva. Esse arrastão faz com que as lembranças — e, com o tempo,
outras funções cognitivas — caiam literalmente no esquecimento.
No
esforço para contrapor os primeiros apagões do Alzheimer, a Danone
Medical Nutrition anuncia a chegada ao país da bebida Souvenaid, cuja
proposta não tem precedentes no combate a essa doença, que ainda carece
de tratamentos médicos 100% efetivos. O produto, com sabor baunilha, é
considerado um complemento alimentar, fruto de mais de dez anos de
pesquisas envolvendo testes no prestigiado Massachusetts Institute of
Technology (MIT), nos Estados Unidos. Entre os ensaios clínicos que
mapearam sua ação, está o Souvenaid II, publicado no Journal of
Alzheimer’s Disease. Durante seis meses, foram avaliadas 259 pessoas com
Alzheimer leve, divididas em grupos paralelos: metade recebeu a bebida e
o restante um líquido fajuto, o placebo.
De
acordo com o responsável pelo estudo, o neurologista Philip Scheltens,
da VU University Medical Center Amsterdam, na Holanda, os resultados
apontaram benefícios na memória recente com o uso diário do produto.
“Utilizamos exames de eletroencefalograma para investigar a qualidade da
comunicação entre os neurônios. E descobrimos que, nos pacientes que
receberam a bebida de verdade, ela sustentava a conexão entre as células
nervosas, enquanto nos demais voluntários esse processo se
deteriorava”, conta Scheltens, em entrevista exclusiva a SAÚDE. “Entre
os efeitos adversos, nenhum foi significativamente mais presente em um
ou outro grupo. Isso mostra que a bebida é segura e bem tolerada”,
observa o professor. Em resumo: ela conseguiu resguardar o cérebro,
sobretudo as regiões assaltadas pelo mal neurodegenerativo.
Bem-vinda, mas não a todos
A
Associação Brasileira de Alzheimer estima em 1,5 milhão o número de
portadores da desordem em nosso país. E a projeção para a América do Sul
é que ela cresça 534% até 2050 — seria um efeito colateral do aumento
da expectativa de vida no continente. Mas nem toda essa população pode
ou poderá tirar proveito do Souvenaid. Testes revelaram que ele não tem
efeito protetor em quadros moderados ou avançados. “O suplemento melhora
o estado das membranas dos neurônios, viabilizando as sinapses, que são
geralmente atacadas na fase precoce do Alzheimer”, explica o
neurologista Paulo Bertolucci, da Universidade Federal de São Paulo. Se a
doença progride, as células nervosas capitulam e os danos são
irreversíveis.
Mas
qual é a receita do Souvenaid que o tornaria capaz de proteger a
memória? O mérito recai sobre as substâncias colina, uridina, DHA e EPA.
“As membranas das células nervosas são como paredes, formadas por
fosfolipídios, que funcionam como tijolos. Para estimular a formação
deles, necessitamos de nutrientes-chave, como os que compõem a bebida”,
aponta Claudio Sturion, diretor médico da Danone Medical Nutrition.
Sabe-se
que certos cardápios, como a dieta mediterrânea — à base de peixes,
verduras, frutas e azeite —, diminuem o risco de lapsos de memória e
raciocínio lento. Uma das características desse menu é oferecer doses
generosas de EPA e DHA, que são formas da gordura ômega-3, além de
vitaminas. O Souvenaid meio que se inspira nesse mix nutricional,
inclusive pelas suas vitaminas. Um frasco oferece as do tipo C, E e do
complexo B, como o ácido fólico. “Ele reduz os níveis circulantes de
homocisteína, molécula relacionada à presença de Alzheimer”, exemplifica
o psicogeriatra Hewdy Lobo, da Associação Brasileira de Nutrologia.
Altas taxas dessa substância estão associadas, por sua vez, ao
encolhimento do cérebro.
Apesar
do amplo histórico de estudos, o Souvenaid não foi avaliado pra valer
em pessoas sem declínio cognitivo. Em outras palavras, ainda não pode
ser usado na prevenção da doença. Tem mais: embora esteja livre de
prescrição e não haja evidências de interação com remédios contra o
Alzheimer, recomenda-se a sua ingestão mediante orientação médica.
Segundo os testes clínicos, deve-se tomar um pote de 125 mililitros por
dia — e o produto começa a fazer efeito após três meses de uso contínuo.
Ele serve de lanche da manhã ou da tarde e pode entrar na receita de
vitaminas geladas. Só não vale aquecê-lo.
Apesar
da indicação, a garrafinha está longe de ser barata — uma caixa com
quatro unidades custa por volta de 40 reais. Se é preciso tomar uma
delas todo dia... Não é por menos que a combinação do suplemento com a
medicação chega a dobrar os gastos do paciente. Aliás, diante de
obstruções intestinais, dificuldade para engolir e alergia a peixes e
frutos do mar (os redutos de DHA), o produto tem de ser descartado. A
despeito das contraindicações, o primeiro desafio, inclusive para o
médico, é captar o mais cedo possível os sinais do Alzheimer. “A
detecção depende principalmente do exame clínico, já que recursos de
imagem ajudam a excluir outras causas de demência em estágio mais
avançado”, informa o neurologista Arthur Shelp, da Universidade Estadual
Paulista. Quanto antes isso acontecer, maior a chance de a nova bebida
ajudar a blindar o cérebro.
Coquetel contra o Alzheimer - ingredientes:
DHA - (1 200 mg) Equivale a um filé de 80 g de salmão. Ele é um tipo de ômega-3.
EPA - (300 mg) Equivale a uma porção de 55 g de anchova. É outra versão do ômega-3.
URIDINA - (625 mg) Equivale a 420 tomates-cereja. Favorece a condução dos impulsos nervosos.
COLINA - (400 mg) Equivale a 4 ovos cozidos. Atua no mecanismo de retenção da memória.
Quando a cuca começa a sofrer
Calcula-se
que de 10 a 15% das pessoas que chegam aos 65 anos apresentam sintomas
que remetam ao Alzheimer. A prevalência salta 3% ao ano, até atingir
quase 50% ao completar os 85 anos. Nos estágios iniciais da doença, os
lapsos de memória são mais presentes, mas podem ser sutis e até
negligenciados por serem confundidos como algo natural no
envelhecimento. Entre os indícios da doença, estão esquecimento de nomes
e objetos, confusão com locais familiares, lentidão em tarefas triviais
— como gerenciar finanças ou preparar refeições — e alterações
frequentes de humor.
Fonte: saude.abril.com.br
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