"A
flora nacional concentra a maior biodiversidade do mundo. São 55 mil
espécies catalogadas, o correspondente a 20% do total distribuído pelo
planeta", dispara o médico Roberto Boorhem, presidente da Associação
Brasileira de Fitoterapia. Esse tesouro natural é uma oportunidade de
avançar na descoberta de novos tratamentos médicos, desde que utilizado
com critério científico.
Antes
de tudo, apague a crença de que tudo que é natural não faz mal. "As
plantas necessitam de recursos químicos para se defender, como alguns
alcaloides, que, por serem amargos e tóxicos, afastam predadores, ou
óleos essenciais, que atraem aves para a polinização", exemplifica a
farmacêutica Ivana Suffredini, da Universidade Paulista, na capital.
"Assim como algumas dessas substâncias podem atuar positivamente no
organismo humano, outras provocam sérios danos", alerta.
Outra
confusão que precisa ser desfeita é usar os termos plantas medicinais e
fitoterápicos como sinônimos. "Fitoterápicos são remédios, que passam
por uma rigorosa avaliação de segurança e eficácia em seres humanos, com
uma concentração de ativos padronizada, o que nem sempre ocorre com as
folhas para o preparo de chás", diferencia a geriatra especializada em
fitomedicina Rita Ferrari, de São Paulo.
Não
quer dizer que a população tenha de abandonar as infusões,
respeitando-se algumas medidas de cautela. Com o respaldo de
investigações sérias e de anos de uso popular registrados, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista de 66
espécies eficazes, com suas respectivas indicações de uso. As plantas
mencionadas nesta reportagem aparecem nessa relação e são rotuladas como
drogas vegetais. "Esses chás devem ser consumidos somente para alívio
de sintomas agudos, sem ultrapassar 30 dias. A utilização prolongada
exige o acompanhamento de um médico ou nutricionista", esclarece
Boorhem.
A
procedência da planta também requer total atenção. "Algumas espécies
são muito semelhantes e facilmente confundidas, o que é perigoso",
justifica Ivana. Você só deve adquirir o produto de farmácias ou casas
de ervas idôneas. "A Anvisa já tem uma proposta para regulamentar a
venda dessas drogas vegetais", afirma Douglas Duarte, coordenador de
assuntos regulatórios da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos
Nacionais. "Elas deverão ser comercializadas em embalagens que estampem
especificações como alegação terapêutica e orientação de consumo." O
selo do Ministério da Saúde, portanto, será, em breve, mais uma garantia
para o consumidor.
Sinal amarelo
Remédios
de uso contínuo nem sempre combinam com plantas medicinais. "Alguns
ativos dos vegetais potencializam ou anulam os seus efeitos", avisa
Ivana Suffredini. Portadores de doenças crônicas — como as
cardiovasculares, as renais, as hepáticas, o diabete, o câncer e a
epilepsia — também não devem ingeri-los por conta própria, já que o
consumo pode ser tóxico para o seu organismo mais sensível e agravar o
quadro. O último alerta é para as grávidas. "Elas jamais devem tomar
chás e fitoterápicos sem o médico ter prescrito. Muitos contêm
substâncias que contraem a musculatura uterina, arriscando a gestação",
diz a farmacêutica Mary Anne Bandeira, coordenadora do Projeto Farmácias
Vivas, da Universidade Federal do Ceará.
Esperança contra o câncer
O primeiro fitoterápico brasileiro contra tumores já está em fase de testes com seres humanos. AEuphorbia tirucalli,
espécie conhecida como aveloz, mobilizou grandes hospitais, como o
Sírio-Libanês e o Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo, que
avaliam, em pacientes graves, a eficácia de um remédio à base de seus
componentes no controle do câncer de mama e de próstata. "As substâncias
do aveloz desestruturam as células cancerosas e as induzem à morte",
explica o farmacêutico Luiz Pianowski, que coordena pesquisas sobre a
planta no laboratório Amazônia Fitomedicamentos. "Seu principal trunfo é
atuar de maneira seletiva, poupando células sadias que costumam ser
afetadas pela quimioterapia", destaca. Na opinião do oncologista José
Augusto Rinck Junior, do Hospital A.C. Camargo, a droga é uma aposta,
mas ainda são necessárias mais investigações que comprovem sua segurança
e vantagens em comparação com medicamentos padrão
Do jeito certo
Os
chás medicinais são bem-vindos para aliviar sintomas agudos, desde que
consumidos em situações pontuais e respeitando as orientações descritas
anteriormente. Para tirar proveito da infusão, siga as recomendações de
preparo: verta água fervente sobre as folhas e, em seguida, abafe o
recipiente por cerca de cinco minutos. Coe e beba. No caso de partes
mais rígidas da planta, como cascas, é preciso submetê-las a um processo
de decocção, que consiste em uma fervura durante dez minutos.
Fonte: saude.abril.com.br
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