sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ninguém vive bem quando está a ponto de explodir quase todo dia, quase toda hora. A mente e o corpo ficam longe da sanidade. É por isso que, vez ou outra, a ciência desencava novas evidências mostrando que o estresse descontrolado está na origem de uma extensa lista de problemas, das falhas de memória à baixa imunidade, sem contar em doenças graves, como o câncer. Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, acabam de adicionar um novo item a essa relação: a infertilidade feminina.

Segundo eles, a tensão nas alturas estaria por trás do insucesso de mais de 200 mulheres analisadas, todas na faixa dos 18 aos 40 anos, para engravidar. Sob esse estado, o organismo feminino passa a secretar doses cavalares de um hormônio chamado alfa-amilase. As taxas elevadas dessa substância atuam como um verdadeiro espanta-cegonhas, influenciando o sistema nervoso simpático, que é acionado em momentos de perigo, a acelerar o funcionamento de vários órgãos. Nas candidatas a mãe, essa conjunção de fatores ativa um mecanismo que desestimula a capacidade reprodutiva. "O alfa-amilase é um tipo de adrenalina que reduz a produção de progesterona, justamente o hormônio responsável pelo ciclo menstrual e pelas modificações do organismo durante a gravidez", explica o urologista Jorge Haddad, integrante do grupo de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo. "E, sem a progesterona, diminuem-se as chances de o embrião se implantar no útero." Essa é a primeira vez que uma pesquisa laboratorial estabelece um elo entre níveis cavalares de um hormônio relacionado ao estresse como um empecilho para gerar filhos. 

Embora os patamares colossais de cortisol, outro hormônio típico dos momentos de nervosismo, não tenham feito diferença no estudo de Oxford, os especialistas também o acusam de postergar a realização do sonho da maternidade. "No caso dele, a mulher fica com dificuldade para desenvolver e liberar o óvulo", afirma o urologista e especialista em reprodução humana Jorge Hallak, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O cortisol ainda impediria a interação entre espermatozoide e óvulo. "Trata-se de uma reação bioquímica. Esse hormônio atrapalha o momento da fertilização, quando o gameta masculino caminha pelas trompas de falópio, fazendo com que ele não reconheça sua célula-alvo", explica Hallak. Cabe dizer que o cortisol em si não é um entrave para o projeto de filhos, mas pode se tornar prejudicial à reprodução quando está muito abaixo ou acima do ideal — e aí tanto para mulher como para o homem.

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