sábado, 29 de setembro de 2012

Quem recebe o diagnóstico desse problema gastrointestinal sai do consultório do médico sabendo que, a partir desse momento, terá que riscar totalmente da dieta alimentos com glúten, uma proteína presente no trigo, na aveia, no centeio, na cevada e em seu derivado, o malte — além de qualquer receita que contenha algum deles. "Nos portadores de doença celíaca, a substância provoca danos na parede do intestino delgado, impedindo a absorção de nutrientes como vitaminas e água", explica Vladimir Schraibman, gastroenterologista e cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. "Por isso, se essas pessoas ingerirem glúten, mesmo que em pequenas quantidades, vão sofrer com diarreia crônica ou prisão de ventre, inchaço, flatulência, irritabilidade e pouco ganho de peso", conta Schraibman. 

Mas existe uma turma de celíacos que segue à risca a restrição alimentar e, mesmo assim, de uma hora para a outra começa a apresentar erupções na pele que, a princípio, lembram picadas de inseto e em pouco tempo viram bolhas que ardem e coçam bastante. Em alguns casos, elas são acompanhadas pelos sintomas gástricos. "Trata-se de uma variante da doença celíaca chamada de dermatite herpetiforme e que também é desencadeada pela presença do glúten", explica Péricles Marques, presidente da Associação dos Celíacos do Brasil.

Pergunta: se esses indivíduos cortaram totalmente essa proteína do cardápio, como ela provocaria o quadro? "Por meio de cosméticos com ingredientes derivados da substância na sua formulação", responde a dermatologista Erica Monteiro, do Centro de Cosmiatria do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. Isso também pode acontecer com gente que nem desconfia que é intolerante e, assim, não faz nenhuma ligação entre o aparecimento das marcas na pele com o contato com o glúten. E muito menos com o uso desses produtos.

No entanto, mais difícil do que descobrir que essa molécula causa bolotas e afins na pele é saber em que cosméticos ela está presente. A proteína pode ser usada em fórmulas para o tratamento do corpo, do rosto, dos lábios e dos cabelos, mas os fabricantes nem sempre declaram de forma direta a presença dela e utilizam apenas uma nomenclatura muito técnica para descrever o que há dentro da embalagem. Foi o que descobriu um estudo realizado na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, um dos trabalhos apresentados no último congresso do Colégio Americano de Gastroenterologia, realizado recentemente em Washington, também na terra do Tio Sam.

Os pesquisadores americanos chegaram a essa conclusão depois de buscar a palavra glúten ou a expressão livre de glúten no site das dez maiores companhias de cosméticos do país. Além disso, procuraram dados sobre os ingredientes dos produtos em um site independente. A investigação revelou que apenas duas das empresas ofereciam informações detalhadas sobre o que é usado em suas fórmulas. E, mesmo assim, os experts não conseguiram identificar as fontes da proteína com a ajuda da web. Ou seja, se para os especialistas é um desafio saber em quais itens havia ou não glúten, imagine para os leigos.

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