
A
questão, porém, é que milhões de brasileiros entraram em contato com o
VHC, a sigla que classifica o infeliz, antes desse período e só agora
sofrem as retaliações da invasão. "Vivenciamos atualmente uma epidemia
de diagnósticos", sentencia o infectologista Evaldo de Araujo, do
Laboratório de Hepatites Virais do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"O problema é que muitos casos ainda são detectados tardiamente",
constata Ricardo Gadelha, coordenador do programa de hepatites virais
do Ministério da Saúde. A essa altura, o fígado já foi assolado por uma cirrose ou por um câncer. Aí, a única solução é o transplante.
Só
que os atentados ao corpo não se restringem a esse órgão. Os
especialistas colhem cada vez mais provas de que a forma crônica da
hepatite C abre caminho ao diabete tipo 2. "Há algum tempo já percebemos
que a prevalência desse distúrbio em portadores de hepatite é muito
alta", diz o hepatologista Edison Parise, da Universidade Federal de São
Paulo. Até o momento, existem duas explicações para o elo, e tudo
depende da identidade do vilão que se apodera do fígado. "O vírus do
tipo 3 induz a resistência à insulina, o fenômeno que antecede o
diabete", explica Parise. "Já as versões 1 e 2 estão relacionadas ao
acúmulo de gordura na glândula, condição que também favorece a doença."
Aliás, o processo de engorda do fígado é marca registrada em quase 70%
dos pacientes de hepatite.
Os
médicos têm bons motivos para dar ordem de prisão ao vírus o mais cedo
possível. "Quando ele é eliminado, a resistência à insulina desaparece",
exemplifica Parise. Evitar que o malfeitor tenha condições de prosperar
é o jeito de impedir o depósito de gordura no fígado e, de quebra, o
próprio diabete. "E esses fatores favorecem a progressão da hepatite em
si, propiciando graves lesões hepáticas", alerta Parise. "O câncer de
fígado é de três a quatro vezes mais frequente em quem apresenta ambas
as doenças."
Ora,
já deu para notar que o sucesso da caçada depende de um diagnóstico
precoce. "Todo indivíduo que se submeteu a uma transfusão de sangue
antes de 1993, envolveu-se em acidentes com agulhas ou compartilhou
seringas deve fazer o exame que acusa o vírus", avisa Ricardo Gadelha.
Mas não dá para se fiar na memória nem no excesso de confiança. "Entre
25 e 30% dos pacientes não sabem como contraíram a doença", revela a
hepatologista Rosângela Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais, que coordena um estudo pioneiro sobre o impacto das hepatites na população mineira.
Fonte: saude.abril.com.br
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