quinta-feira, 4 de julho de 2013


É como se fosse uma bomba-relógio programada para explodir a cada meia década. Assim se comporta a coqueluche, uma doença respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis e que tem predileção pelos bebês. "A cada quatro ou cinco anos o número de casos dispara. Estamos vivendo agora esse momento do ciclo epidemiológico", elucida a infectologista pediátrica Melissa Palmieri, diretora regional da Associação Brasileira de Imunizações.

Para proteger os pequenos contra essa ameaça, o usual é aplicar cinco doses da vacina que blinda o organismo infantil contra o micro-organismo — são três doses iniciais e outras duas depois para reforçar o sistema imune. Mas seu efeito defensivo cai pela metade dez anos após a última injeção. Ou seja, é mais pólvora para fomentar a incidência explosiva do problema, que pode ser transmitido de pai para filho.

Felizmente, para deixar as defesas do corpo em dia, basta adicionar à cartela de vacinação mais um encontro com a seringa — dessa vez, no entanto, a cada intervalo de dez anos. A sugestão desse repeteco, trazida ao Brasil pelo laboratório farmacêutico Sanofi Pasteur, é essencial, já que essa infecção não discrimina idade. Alagoas, Bahia e São Paulo, por exemplo, são estados que mostram já há algum tempo uma tendência crescente de pessoas infectadas em todas as faixas etárias.
 
Em busca da erradicação
 
Há quem pense que a contaminação com a Bordetella na adolescência ou anos mais tarde não é algo tão sério. Afinal, a maioria dos jovens ou adultos apresenta sintomas que podem ser facilmente confundidos com os de um resfriado comum, como febre, secreção nasal e tosse. Pior: muitas vezes, a coqueluche nem avisa que se instalou. "É que todos os que já foram vacinados na infância têm rastros da imunidade, que impede que a doença se manifeste de uma forma tão violenta", esclarece o infectologista Aroldo Prohmann, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, Santa Catarina.

No entanto, familiares e amigos portadores da bactéria, sem saber, representam um grande risco para os bebês que ainda não seguiram, pelo menos, aquelas três primeiras etapas da vacinação. Mais de 80% dos casos de coqueluche envolvem os menores de 1 ano de idade, e, desse total, a estimativa de óbito é de quase 5%. Com a expressividade desses números, o lançamento da vacina chega em tempo para alavancar de uma vez uma estratégia imunológica chamada de cocoon.

Internacionalmente bem-sucedida, seu nome já entrega o objetivo: cocoon em inglês significa casulo. Em outras palavras, sua finalidade é proteger. Todos ao redor da criança devem procurar a imunização, inclusive, se possível, as babás. Confira na ilustração ao lado os principais transmissores da doença.

Quanto mais novo o pequeno, mais hostis serão as complicações resultantes da presença da intrusa. "Crises intensas podem comprometer o pulmão e até o sistema neurológico", alerta o infectologista Alfredo Elias Gilio, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
 
 O poder devastador que a infecção tem sobre a criançada de até 5 anos se deve ao fato de as defesas ainda estarem imaturas. São necessários alguns anos até que o sistema imunológico se forme completamente. Esse fator, em conjunto com as vias aéreas de menor calibre, transforma a criança no hospedeiro mais frágil. E, cá entre nós, mesmo depois de adotar todas as medidas preventivas, 6% das crianças ainda acabam sendo contaminadas por alguém que não faz parte do círculo familiar ou de amigos. Então, se seu filho apresentar alguns dos sintomas do quadro à esquerda, observe de perto a evolução do problema e avise o pediatra.

A coqueluche se caracteriza por três fases bem delineadas. "Na primeira, há muito catarro, febre e tosse por aproximadamente duas semanas", descreve o infectologista Daniel Wagner de Castro Lima, consultor da Sociedade Paulista de Infectologia. Na segunda fase, a febre some, enquanto a tentativa de se livrar do muco se torna mais vigorosa, gerando dificuldades na hora de inspirar. E, ao forçar o ar para dentro, o organismo responde com crises de tosse e vômitos. "Durante esses acessos, a pressão do pescoço e da cabeça aumenta bastante e isso pode causar hemorragias oculares e no sistema nervoso", explica Aroldo Prohmann. O número de episódios como esse, às vezes, chega a 30 em um único dia, principalmente à noite, deixando a pele e a mucosa com um tom arroxeado pela falta de fôlego. Esse suplício dura semanas. Já na última etapa, a tosse fica mais amena, mas, em contrapartida, surgem outras infecções respiratórias, como pneumonia, que, mais graves ainda, levam de seis semanas a três meses para desaparecer — isto é, com sorte.

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