segunda-feira, 8 de abril de 2013

Em uma tarde de sexta-feira do mês de abril, 21 meninas chegam à Rua Botucatu, no bairro da Vila Clementino, em São Paulo. Mochila ou bolsa pendurada em apenas um dos ombros, elas ocupam quase todas as carteiras de uma pequena sala e enchem o espaço com vozes e risadas. Além da faixa de idade, que varia entre 13 e 16 anos, têm em comum uma meta, reproduzida quase como um mantra: comer a cada três horas, não repetir e não beliscar.
Ali, na casa número 715, fica o Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo. As garotas participam voluntariamente do Programa de Atividade para o Paciente Obeso, o Papo. O tema do encontro nesse dia: o tamanho das porções. A fatia de melão, ensina a nutricionista Simone Freire, não deve ser mais larga do que uma caixa de fósforos.
Quantidades descomedidas à mesa ajudam a engordar a prevalência de obesidade em crianças e jovens brasileiros, que hoje é de 9%. "Nos anos 1960, a porção de batata frita era um terço menor que hoje", compara a hebiatra Ines Pardo, coordenadora do projeto Adolescente Saudável, da Prefeitura de Sorocaba, no interior de São Paulo.
A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo — que, convenhamos, já virou desculpa para tudo — também têm sua parcela de responsabilidade no aumento da silhueta dos jovens. "Os nossos hábitos alimentares, de modo geral, mudaram muito", observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos exagerando no sal e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão. E os adolescentes, ou seja, aqueles com idade entre 10 e 19 anos, não estão imunes às estatísticas.
Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso de gordura por causa da gula, surge como marca da nova geração: a preguiça. "Cem por cento das meninas que participam do Papo não praticavam nenhum esporte", revela a psicóloga Cristina Freire, que monitora o desenvolvimento emocional das voluntárias. Nos encontros semanais do grupo, elas frequentam aulas de educação física.
Você provavelmente já sabe quais são as consequências de uma rotina sedentária e cheia de gordura. "E não é novidade que os obesos têm uma sobrevida menor", acredita Claudia Cozer, endocrinologista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas, se há cinco anos os estudos projetavam um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual as doenças que viriam na velhice já são parte da rotina deles. "Os adolescentes já estão sofrendo com hipertensão e diabete", exemplifica Claudia.
Não há dúvidas de que hábitos saudáveis criados desde a infância são a maneira mais eficiente de mudar essa realidade. E é mais garantido aproveitar o organismo cheio de vida e energia da juventude do que deixar para resolver qualquer situação mais para a frente. "De um problema na coluna ao excesso de peso, tudo é mais fácil de corrigir na adolescência do que na vida adulta", afirma Souza Lima.

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