quarta-feira, 21 de novembro de 2012


O médico escocês Alexander Fleming (1881-1955) revolucionou a medicina quando encontrou, em 1928, uma maneira de combater as infecções bacterianas, verdadeiras epidemias que, até então, não tinham adversários à altura. Seu grande achado foi a penicilina, o primeiro antibiótico do mundo, que culminou no desenvolvimento de vários outros ao longo dos anos. Passadas mais de oito décadas, os frutos de sua descoberta inicial foram associados, agora de maneira negativa, a mais um surto: o da obesidade infantil. 

O alerta vem da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, onde um trabalho avaliou mais de 11 mil meninas e meninos nascidos entre 1991 e 1992. Segundo os especialistas, a prescrição de antibióticos antes dos 6 meses de idade patrocinou o surgimento de gordurinhas poucos anos depois. "As crianças que tomaram esses medicamentos apresentaram um risco 22% maior de ficar acima do peso", revela o pediatra Leonardo Trasande, autor da investigação. 

Outro experimento da mesma instituição reforça a tese. Nele, ratos jovens receberam doses de antibiótico junto com a refeição. Após algumas semanas, as cobaias tiveram um aumento de 15% na gordura corporal. "Ao que tudo indica, os remédios alteraram a flora intestinal, elevando o aproveitamento das calorias dos alimentos", explica o gastroenterologista Ilseung Cho, líder do estudo. Os antimicrobianos também favoreceram a reprodução de bactérias que incentivam o organismo a diminuir o gasto energético. "Esse processo é mais intenso nos primeiros anos de vida, fase em que o sistema digestivo engatinha", acrescenta a endocrinologista Maria Edna de Melo, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. 

Esses artigos ganharam destaque dentro da comunidade científica por serem os primeiros a relacionar antibióticos com sobrepeso, principalmente em uma etapa da vida em que o corpo está em plena formação. Alguns levantamentos já tinham até comprovado que as mudanças na flora intestinal levam à obesidade. "Mas as pesquisas americanas foram pioneiras por advertirem que esses medicamentos são desencadeadores do processo", acrescenta o endocrinologista Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. 

Os estudos da Universidade de Nova York engrossam um coro cada vez mais forte de entidades que lutam por uma prescrição consciente. "Existem vários fatores que levam ao exagero na indicação dos remédios que matam as bactérias", atesta o pediatra Fábio de Araujo Motta, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. O principal deles é a pressão dos pais. "As pessoas pensam que, se o médico não lançar mão de um fármaco, ele não está fazendo seu trabalho direito", lamenta. 

É fundamental ressaltar também que o modelo de atendimento rápido, por meio de prontos-socorros, impossibilita o tratamento adequado. "O médico que faz as consultas nesses locais dificilmente conhece o histórico do paciente. Portanto, ele prefere não arriscar, recomendando de cara o uso de uma substância antibactérias", critica Fabio Ancona Lopez, pediatra do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
 

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