domingo, 11 de novembro de 2012


O ano era 1988 e a cidade, Seul, capital da Coréia do Sul, sede da 24ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna. Após derrotar quatro adversários em um único dia, o judoca paulistano Aurélio Miguel chegava à final da categoria meio-pesado para enfrentar o alemão Marc Meiling. Depois de uma
luta tensa e disputada, os juízes decidiram pela vitória do brasileiro, o primeiro a ganhar uma medalha de ouro no judô na história do país. Para alcançar o lugar mais alto do pódio, no entanto, Aurélio Miguel teve que, antes de tudo, vencer uma adversária ainda mais tenebrosa: a asma.

O campeão olímpico começou a sofrer com a doença nos primeiros anos de vida. "Cheguei a ser internado por causa das crises ainda bebê e, desde essa época, frequentemente ia parar no pronto-socorro", lembra o judoca, hoje vereador da cidade de São Paulo. "Aí, os médicos orientaram meus pais a me colocarem em algum esporte." Por isso, com 4 anos e meio, Miguel foi matriculado em escolinhas de judô e natação. "Isso ajudou a desenvolver minha capacidade cardiorrespiratória. Atualmente quase não tenho mais problemas com a asma", diz.

A história do medalhista é um exemplo dos benefícios prestados pelo esporte a quem tem esse distúrbio respiratório. Inclusive para os asmáticos sem pretensões olímpicas, a prática de uma atividade física ajuda, e muito, a reduzir sintomas como tosse, chiados e apertos no peito, além de crises marcadas por respiração fora de ritmo. A prova científica desse efeito vem de um novo estudo da Universidade de São Paulo (USP), que constata: asmáticos adeptos de exercícios sentem melhoras consideráveis no condicionamento respiratório e na qualidade de vida. O motivo: suar a camisa também controla a inflamação nos pulmões.

Historicamente, a atividade física nunca foi recomendada a portadores de asma. "Os especialistas temiam os espasmos que poderiam ocorrer durante o esporte, mas logo se viu que os asmáticos submetidos a treinamentos se sentiam melhor depois", explica o fisioterapeuta Celso Fernandes de Carvalho, que orientou o trabalho da USP. "Nossa pesquisa demonstra que os exercícios regulares diminuem os sintomas do problema e ainda reduzem a ansiedade e a depressão que costumam estar associadas a ele", completa Fernandes.

Apesar de apresentarem um grande impacto sobre a asma, os esportes devem ser encarados como uma ferramenta auxiliar em seu tratamento. Em outras palavras, eles não substituem os remédios receitados. "Não há mais dúvidas de que o exercício seja positivo para o asmático. Contudo, ele não deixa de ser um coadjuvante", avalia a pneumologista Rosemary Ghefter, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

O educador físico Andres Meyer, da Associação Brasileira de Asmáticos, lembra ainda que todo portador do problema precisa conversar com seu médico de confiança antes de botar o corpo para se mexer. "Com a orientação de um pneumologista e a adesão ao tratamento, o asmático consegue praticar o esporte que deseja", garante. E, com o tempo, pode minimizar ou até eliminar sua dependência das bombinhas de ar. Caminhar todas as manhãs, pedalar à tarde ou nadar três vezes por semana não vai fazer ninguém disputar uma olimpíada. Para muita gente, porém, dar adeus à bombinha já é uma conquista digna de medalha de ouro.
 

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