
"Nosso
teste detecta um grupo específico de moléculas voláteis presentes no
hálito", resume o israelense. Essas substâncias, digase, são muito
delicadas e evaporam facilmente. "Todas as células do corpo, saudáveis
ou cancerosas, emitem diferentes partículas para o sangue", ensina o
cientista. O desafio, pensando em métodos de diagnóstico, está em criar
maneiras de identificá-las e usá-las como boas pistas de que algo não
vai bem.
Na
investigação sobre os tumores estomacais, os autores testaram o
equipamento em 130 pessoas que se queixavam de algum desconforto
gástrico, como dores, sensação de queimação ou azia constante. Certeiro,
o exame chegou a diferenciar uma simples gastrite de um câncer com 90%
de precisão. A ideia, agora, é avaliar a tecnologia em mais gente para
assegurar sua eficácia.
A
novidade ganha importância pela dificuldade de flagrar precocemente o
câncer de estômago — no Brasil, o diagnóstico tardio ocorre em três a
cada quatro casos. Para detectar tumores ali, os médicos recorrem a
endoscopias e biópsias, métodos caros e invasivos. "A estratégia desses
novos aparelhos é limitar o grupo que vai precisar mesmo de endoscopia,
exame complexo do ponto de vista da saúde pública", analisa o cirurgião
oncológico Heber Salvador, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.
Enquanto
os estrangeiros buscam formas mais ligeiras e econômicas de detectar
tumores, cientistas brasileiros investem em aparelhos para checar se o
coração está ok. Foi o caso da parceria entre o Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto do Coração (InCor). Tudo
começou quando o cardiologista Fernando Bacal, coordenador do Núcleo de
Transplante Cardíaco do InCor, observou um hálito bem característico em
pacientes com insuficiência cardíaca avançada, doença que enfraquece o
coração e causa uma série de complicações — de falta de ar a
comprometimento renal. "Em minha experiência, notei que essas pessoas
exalavam um cheiro específico de acetona", conta o médico.
A
partir daí, ele procurou os químicos da USP, que aceitaram o desafio de
conceber um aparelho com a capacidade de apontar, por meio do hálito,
descompensações no músculo cardíaco. "Nosso trabalho foi criar um
dispositivo fácil de manusear, que pudesse ser levado a campo sem
precisar de muitos recursos", relata o químico Guilherme Lopes Batista,
um dos autores do protótipo.
A
invenção brasileira, feita com materiais bem simples, como pedras
porosas utilizadas em aquários ornamentais, exige que o paciente assopre
o bocal de um recipiente de vidro até inflar um saco plástico. O
material é levado para o laboratório. A água, que preenche o fundo do
vasilhame, passa por uma análise. A presença de acetona, sinal de
insuficiência cardíaca, é detectada nesse momento. "Para conseguir
funcionar, o coração doente quebra alguns ácidos graxos a fim de obter
energia, processo que libera acetona para a circulação", explica Bacal.
Apesar
de ainda estar sob estudo, a ideia dos especialistas é criar versões
comerciais num futuro próximo. "Estamos buscando parcerias para
viabilizar a produção de dispositivos que poderão ser utilizados em
consultórios e até em casa", conta Batista.
Já
que falamos em usar o que escapa da boca como dedo-duro de apuros no
peito, convém lembrar que a falta de cuidados na limpeza de dentes,
língua e gengiva também coloca a saúde cardiovascular em risco. "Com a
proliferação de bactérias na cavidade bucal, elas podem escapar de lá e
chegar ao músculo cardíaco", diz o cardiologista Abrão Cury, do Hospital
do Coração, em São Paulo. Essa invasão causa a endocardite, infecção
severa capaz de levar o órgão à falência.
Fonte: saude.abril.com.br
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